Roger Waters precisa de educação
Não sabemos ainda o que Bolsonaro fará caso eleito. Já Vladimir Putin, que recebeu um ponto de interrogação de Waters, é um caso muito mais sério
Publicado em 10 de outubro de 2018 às, 15h21.
Última atualização em 23 de outubro de 2018 às, 11h41.
Ex-líder do Pink Floyd, Roger Waters fez um show polêmico ontem em São Paulo. Exibiu a hashtag #EleNão em letras gigantes no palco. Foi muito vaiado pela plateia, pelo que pude perceber assistindo vídeos feitos nos celulares de quem estava lá. Listou os seguintes políticos como “neofascistas”: Donald Trump (presidente dos Estados Unidos), Viktor Orbán (primeiro-ministro da Hungria), a família Le Pen na França, Sebastian Kurz (primeiro-ministro da Áustria), Nigel Farage (ex-líder de um partido contra a imigracao na Inglaterra), Jarosław Kaczyński (ex-primeiro ministro conservador da Polônia).
Aí a lista complicou. Citou Jair Bolsonaro, previsivelmente, e Vladimir Putin. Só que colocou um ponto de interrogação ao lado do nome do presidente russo. Fiquei perplexo. Como um político que manda matar opositores, envia para prisões na Sibéria empresários críticos a seu governo, impede o estabelecimento de organizações partidárias verdadeiramente independentes pode ser comparado a um candidato à presidência que nunca fez nada disso? E ainda com interrogação?!
Vladimir Putin usa a estrutura estatal da Rússia para firmar-se no poder. Segundo um fascinante texto de Natalia Forrat (“Shock-Resistant Authoritarianism: Schoolteachers and Infrastructural State Capacity in Putin’s Russia”, publicado este ano na revista Comparative Politics), o presidente comandou, de 2000 a 2012, um complexo esquema de fraude eleitoral com professores e professoras da rede pública. Trabalhando como mesários, os servidores públicos assinavam e votavam por cidadãos ausentes. Caso não o fizessem, corriam o risco de serem demitidos pelo governador nomeado por Putin.
Não sabemos ainda o que Bolsonaro fará no poder caso eleito. Parece-me que a interrogação de Waters foi colocada no político errado.