Até tú, Disney?
As empresas são formadas por pessoas e pessoas são e serão sempre passíveis de erros, por isso a estratégia de relacionamento com clientes começa no RH.
Publicado em 13 de junho de 2022 às, 09h40.
Última atualização em 13 de junho de 2022 às, 14h53.
Por Márcio Oliveira
Mesmo a maior referência em experiência e satisfação do cliente não é imune a falhas incríveis, como o recente episódio do rapaz que foi impedido por um funcionário da Disney Paris de pedir a namorada em casamento bem no meio do ato. O vídeo feito viralizou, mas se você não assistiu ainda, veja aqui depois.
No vídeo, vemos o funcionário da Disney interrompendo de maneira brusca o pedido de casamento, tirando caixa das alianças da mão do rapaz e pedindo para o casal sair de onde estava. Apesar da atitude grosseira, o funcionário falou com voz normal e não estava nervoso, na verdade, tentava até ser simpático, o que não atenuou em nada a atitude, claro.
Junto com o vídeo viralizado, muitos comentários e análises também se seguiram, com pessoas criticando ambos os lados.
Alguns falavam que o casal estava em uma área proibida sobre um palco e por isso, o funcionário estava correto em tirá-los de lá em nome da segurança, que é um dos principais pilares da Disney.
Para quem não sabe, a Disney possui uma matriz com agora 5 pilares que são as diretrizes de tudo o que é feito nos parques e hotéis, ou seja, são as referências para todos os colaboradores para garantir que os visitantes tenham de fato experiências incríveis com a Disney.
Os pilares são na ordem de importância: Segurança, Cortesia, Inclusão (novo pilar), Show e Eficiência.
Sim, o pilar de segurança é o mais importante, já que se algum acidente acontecer todos os outros pilares perdem o sentido. Foi baseado nisso que muitos defenderam a atitude do funcionário.
A Disney é referência mundial em experiência do cliente, como eu disse no início deste artigo, e é tão respeitada que possui um Instituto para onde diversas empresas do mundo inteiro mandam seus funcionários para aprenderem com eles sobre este tema. Além disso, existe também o livro O Jeito Disney de Encantar os Clientes, e que recomendo a leitura. Tanto no Instituto como no livro, é explicado como estas diretrizes devem ser aplicadas e o grande desafio disso tudo é que elas não podem nunca serem aplicadas de maneira isolada.
Ou seja, segurança é o mais importante, mas todo o conjunto de uma ação decidida por conta da segurança não pode vir descolada dos outros pilares. O grande desafio aqui é que os colaboradores possuem treinamento, mas também autonomia de decisão para aplicação destas diretrizes e acredito não ser fácil equilibrar isso. E este foi o principal problema da atitude do colaborador, já que ele definitivamente não praticou nenhum dos outros pilares. Sim, existiam várias outras formas de se lidar com a situação, inclusive com a tolerância para perceber o nível de risco para a segurança do casal em estar ali naquele lugar. O próprio casal, inclusive, disse que havia solicitado e conseguido a autorização com outro funcionário.
A Disney, como esperado, veio rapidamente a público para pedir desculpas reconhecendo o excesso de zelo e falta de empatia do funcionário e se prontificando a tentar remediar a situação com o casal.
Claro que a imagem da Disney é muito forte e uma situação como esta, apesar de arranhar, não vai abalar as estruturas da marca, mas serve de alerta. E, como sempre falo para as empresas: Mind The Gap! Cuidado com o que você promete ao seu cliente e entenda as reais experiências que eles têm com a sua marca, porque afinal, nem todas as empresas têm uma marca forte e desejada como a Disney, certo? E se eles também erram, imagine a sua empresa?
As empresas são formadas por pessoas e pessoas são e serão sempre passíveis de erro, por mais treinamento que se faça, até porque treinamento apenas não basta e a coisa aqui é mais profunda e tem a ver com alinhamento de propósito, conforme eu abordei neste artigo onde explico que o relacionamento com clientes começa no RH.
Portanto, fique atento nas reais experiências que seus clientes têm, analise os gaps, seja preventivo e, quando errar, reconheça, peça desculpas e conserte o erro rapidamente e sem dar desculpas.