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Estratégias financeiras de impacto para corporações

Bate papo com Flavia Maya, advogada, especialista em ESG e sócia de mercado de capitais da Semeare Investimentos

Flavia Maya (Reprodução/Reprodução)
Flavia Maya (Reprodução/Reprodução)
Rachel Maia
Rachel Maia

Publicado em 5 de dezembro de 2023 às, 16h32.

Cada dia estamos mais próximos da Agenda 2030, e, como escrevi recentemente, é imprescindível cuidarmos deste planeta, pois não existe um planeta B. Precisamos assumir, como indivíduos, o protagonismo e o comprometimento de mudarmos e melhorarmos nosso meio, sendo agentes de transformação, aliados do meio ambiente e propagadores de ações em prol da sustentabilidade.

No bate papo de hoje, converso com Flavia Maya, Advogada, especialista em ESG e sócia de mercado de capitais da Semeare Investimentos, assessoria de investimentos em ESF e consultoria em estruturação de dívida verde, que faz apontamentos enriquecedores sobre o tema. Ela destaca que quando traçamos uma linha do tempo de avanço das discussões globais de sustentabilidade, podemos identificar pelo menos 30 anos de avanço em “preparativos” antes do que estamos chamando de a “Década da Ação”, assim definida pela ONU a década atual.

Para a maior parte do mercado, contudo, os anos preparatórios não necessariamente envolveram o desenvolvimento de estratégias de negócio que passassem a consolidar aspectos de responsabilidade socioambiental e impacto positivo. Sendo essa uma realidade, a Década da Ação passa a demandar estratégias de curto prazo e alta eficiência, para o atendimento a demandas regulatórias urgentes, nacionais e internacionais, mantendo vivas as premissas de negócio. E o mercado financeiro, como viabilizador da economia real, é um dos principais aliados para essas estratégias.

Por esse motivo, é fundamental haja uma maior visibilidade dos instrumentos existentes, e principalmente das vantagens estratégicas em atrelar projetos ou metas de sustentabilidade à captação de recursos financeiros, tais como:

1) Ampliação da base de investidores potenciais.

Ao atrelar projetos ou metas de sustentabilidade aos seus títulos (genericamente chamados de “Títulos Verdes”), a corporação passa a acessar também investidores que buscam gerar impacto ambiental positivo.

2) Gestão de Reputação Corporativa.

Os Títulos Verdes incorporam compromissos de sociais, ambientais ou de sustentabilidade que, cumpridos adequadamente passar a integrar a estratégia de posicionamento de uma corporação em relação ao valor socioambiental. É importante, contudo, que os compromissos sejam bem geridos e tenham lastro em estratégias solidas, a fim de evitar uma percepção negativa de práticas de “greenwashing” (simulação de ações socioambientais para benefício financeiro ou reputacional indevido).

3) Possibilidade de Redução de Custo de Capital

No Brasil não há incentivos fiscais diretos atrelados a Títulos Verdes. Contudo, por incorporarem os compromissos mencionados anteriormente, os títulos verdes contam, usualmente, com uma reduzida percepção de risco. Isso porque, diversos riscos corporativos que podem impactar negativamente o investidor, são mitigados através de ações de cunho social ou ambiental. E, claro, percepção de risco é dinheiro na mesa.

4) Fortalecimento da Relação com Stakeholders

A partir de uma governança transparente em relação a práticas socioambientais e a responsabilidade corporativa, inclusive abrangendo estratégias financeiras de endividamento, a corporação reafirma seu compromisso com os investidores, reguladores, clientes, parceiros e com a comunidade.

5) Preparação para o Futuro

A crescente escassez de recursos naturais vai demandar adaptações e inovação da humanidade. Com isso, o investimento em projetos e metas sociais e ambientais passa a ser o único caminho para a perenidade dos sistemas socioeconômicos como os conhecemos. As corporações que se anteciparem e que melhor acessarem esses recursos terão vantagens competitivas no mercado.

Flavia Maya também cita como poderíamos ainda argumentar outros benefícios estratégicos e financeiros. Contudo é importante também destacar a importância de que os Títulos Verdes sejam sempre lastreados em ações efetivas, que reflitam uma cultura organizacional alinhada com os compromissos assumidos com o Investidor e o mercado.

Isso porque, se por um lado o ganho de confiança e reputação geram benefícios financeiros mensuráveis, a sua perda perante o mercado é inestimável. E, potencialmente, irrecuperável.

A verdadeira sustentabilidade corporativa se constrói não apenas em promessas, mas em ações concretas, moldando um futuro em que o sucesso financeiro se entrelaça ao impacto positivo na sociedade e no meio ambiente. O futuro está chegando, e mais do que apenas planejar e ficar na conversa, precisamos partir para ação. Está na hora do plantio.