As ondas de efeitos positivos dos IPOs no Brasil
Reprodução do modelo das empresas-plataformas globais é o que inspira as novas estrelas do mercado de IPOs no país
Publicado em 12 de dezembro de 2020 às, 12h52.
Última atualização em 12 de dezembro de 2020 às, 13h55.
Como se tem amplamente anunciado, o mercado de IPOs se aqueceu de forma historicamente inédita no País, tendo sido realizadas, desde o início do ano, 18 aberturas de capital, totalizando algo em torno de 12 bilhões de reais. Adicionais quatro dezenas de empresas aguardam na fila para seguir o mesmo caminho, o que totalizará, em breve, quase 60 novos IPOs na B3.
Independentemente dos temores de que se trate de um movimento inchado e que possa gerar reflexos indesejáveis para o mercado financeiro como um todo, trata-se de um fenômeno de relevância para quem olha tudo isso como um sintoma de crescente e recorrente maturidade do mercado de ações e investimentos do Brasil. É um momento histórico, sem dúvida.
Algo que pontualmente decorre de todo esse movimento é seu impacto adjacente. Ou seja, os reflexos que essa onda promove e estimula em setores conexos da economia, fomentando, direta ou indiretamente, a ativação de negócios que complementem e sofistiquem as ofertas de valor das empresas diretamente envolvidas nos IPOs.
Um desses mercados é, inevitavelmente, o de M&A. Mola propulsora de parte relevante da transformação da economia brasileira nos últimos anos, o setor de M&A acaba por ser produtivamente envolvido por movimentos concêntricos e expansíveis dessas novas operações, que buscam diferenciação competitiva num mundo em que as barreiras de negócios e pilares setoriais estão ruidosamente ruindo para sempre.
Cada novo IPO induz e ativa essas ondas de diversificação de negócios, uma vez que as empresas protagonistas enxergam-se, literalmente de um dia para o outro, como tendo à mão recursos injetados pelo mercado de capitais e que podem passar a fazer uso em busca de sua própria re-transformação.
Todas elas, sem qualquer exceção, estão hoje ativas no mundo do M&A, buscando novos ativos que lhes tragam tecnologia, produtos e serviços que antes não possuiam e que, num ambiente competitivo de alta e veloz transformação promovida pelos avanços tecnológicos, agora precisam ter.
Além desse movimento que, por si só, seria já de alta relevância para o estímulo da economia do País, mesmo em plena crise sanitária da pandemia e mesmo diante das incertezas das política econômicas do Governo atual, o que assistimos é a instauração de uma intricada complexidade estrutural de negócios antes desconhecida.
Empresas de varejo comprando players de mídia. Empresas de logística investindo em entretenimento. Marketplaces adquirindo meios de pagamento. Meios de pagamento adquirindo plataformas de redes sociais. Enfim, você já me entendeu. Um jogo de inovação na forma de olhar negócios e na própria definição do que vem a ser fazer bons negócios.
O bom negócio hoje para essas empresas da nova safra de IPOs brasileiros não é mais necessariamente comprar o concorrente, incorporar operações buscando otimização de recursos e custos, ou meramente engordar o bottom line da receita para impressionar acionistas e a Bolsa.
Trata-se agora de ir em busca de novas lógicas de interconexão entre diferenciadas cadeias de valor, que incorporam o potencial de exponencialidade ao futuro das companhias.
É a lógica da Amazon, Baidu, Alibaba, além de, em outra medida mas na mesma toada, Tencent, Microsoft, Google, Apple e Facebook.
A reprodução do modelo das empresas-plataformas globais é o que inspira as novas estrelas do mercado de IPOs no País e, em verdade, em todo o mundo.
Assim, através do elo de M&As, empresas aparentemente distantes do coração original das novas companhias de capital aberto do Brasil, passam a entrar em seu radar, o que ativa de forma impactante um sem número de segmentos nem aparentemente tão conexos assim a empresa-mãe.
Há uma riqueza promissora em tudo isso. É uma roda virtuosa de diferenciação e complexidade. Para as empresas envolvidas e para as espirais econômicas por ela dinamizadas.
Estão na rota desse benfazejo tisunami empresas de tecnologia de diferentes naturezas, empresas de dados, criadores, gestores, produtores e distribuidores de conteúdo, plataformas de ativação e conversão de vendas, ferramentas de otimização de performance no âmbito de mídia, operações que dominem e implementem soluções baseadas fortemente em Inteligência Artificial, seja em que vertical for, serviços e plataformas mobile e de geolocalização, além de tecnologias disruptivas como AR, VR, reconhecimento por voz, Natural Language Processing e face recognition. A lista poderia ser alongada ainda mais, sem dúvida. Mas o macro é esse.
Elos de uma cadeia antes inaudita e inimaginável estão sendo ativados e até criados a partir dessa benfazeja onda de IPOs no País.
Próximos capítulos estreando praticamente todos os dias de hoje em diante numa bolsa de valores mais próxima de você.