O valor real de um IPO
Abertura de capital aumenta a visibilidade e a reputação das empresas, além de facilitar acesso ao mercado para captação de recursos para investimentos
Da Redação
Publicado em 4 de junho de 2021 às 07h54.
Última atualização em 4 de junho de 2021 às 08h22.
Por Rogerio Santana*
Os IPOs estão novamente sob os holofotes. Desde o início de 2020, a B3 registrou mais de 50 ofertas desse tipo. No Brasil, o recorde de IPOs (“Initial Public Offerings”) ocorreu em 2007, com 64 operações – mas os tempos eram outros. A taxa básica de juros (Selic) oscilava na casa dos 12% anuais, bem acima dos atuais 3,5%.
Essa queda na taxa de juros básica reduziu a atratividade perante os olhos do investidor de alguns produtos de renda fixa. Como resultado, vimos um volume inédito de novos investidores ingressando no mercado acionário, mesmo durante a pandemia iniciada em março de 2020. Essa nova demanda dos investidores por ativos de renda variável deu um novo impulso às ofertas de ações em bolsa.
Quer saber quais as empresas novatas com maior potencial? Leia as análises do BTG Pactual digital
Há várias causas para o fenômeno. O nível dos juros – o mais baixo da história brasileira – é a explicação mais comum para o pequeno boom de IPOs e investidores. Mas não a única. É preciso lembrar que a tecnologia vem tornando muito mais simples o processo de investimento por parte das pessoas físicas.
Além disso, nunca houve tanto conteúdo disponível sobre educação financeira e o mundo dos investimentos, graças ao trabalho da imprensa, de influenciadores digitais, corretoras, reguladores, da própria bolsa e demais participantes do mercado. Portanto não são apenas os juros que tornam a maré favorável. O mercado de capitais tem se tornado cada vez mais democrático.
Diante disso, surgem especulações e receios. Qual será o próximo IPO? Quais setores irão liderar as ofertas? Essa onda é, afinal, sustentável?
São todas questões relevantes. Porém valeria a pena considerar também outras perguntas, aquelas que frequentam com menos assiduidade os cadernos de economia ou os relatórios dos analistas financeiros: qual o custo para manter como companhia aberta? Como ter sucesso em uma oferta pública inicial? Em quais circunstâncias vale a pena ter uma companhia listada em bolsa?
Essas são, afinal, as questões mais importantes para os verdadeiros protagonistas dos IPOs, os fundadores, os sócios e os gestores das empresas.
Não há duas empresas iguais. Cada uma tem objetivos próprios e, para alcançá-los, recorre à modalidade de financiamento que lhe parece mais adequada. O IPO é uma delas, e o mercado oferece alternativas para todos – da produtora de commodities, com faturamento bilionário, até a startup promissora, cuja receita ainda é de poucos milhões ao ano. Cabe a cada empreendedor avaliar vantagens e desvantagens da abertura de capital para decidir o melhor para sua companhia. No entanto alguns dados podem orientar essa decisão.
Uma das funções básicas de um IPO é a possibilidade de a companhia captar recursos de investidores para projetos e expansões, como investimentos em novas unidades produtivas, ampliações ou mesmo aquisições. E a possibilidade de captar recursos não se resume a companhias que buscam recursos na casa dos bilhões de reais.
A consultoria Deloitte, parceira da B3, realizou uma pesquisa com dezenas de empresas de capital aberto e apurou que mais da metade delas captou no mercado montantes acima de 500 milhões de reais com o IPO. Para apenas 10% dessas empresas, o valor ficou acima dos 2 bilhões de reais. A mesma pesquisa também afirma que mais de 90% dos gestores consideram a abertura de capital como a melhor estratégia de captação de recursos.
Mas, uma vez realizado o IPO, quais seriam os custos para se manter como uma companhia listada em bolsa? No mesmo levantamento, a Deloitte concluiu que, para empresas com faturamento anual inferior a 300 milhões de reais, a média dos gastos com a manutenção do capital aberto é de 800 mil reais ao ano, ou seja, cerca de 0,3% do faturamento.
Já entre companhias com receita líquida superior a 2 bilhões de reais, esses custos são, em média, de 3,85 milhões de reais, ou menos de 0,2% do faturamento. Em outras palavras, o custo de manutenção como companhia aberta varia de acordo com o porte da empresa.
Mesmo assim, a decisão de realizar um IPO não pode se resumir aos fatores preço e custo. A decisão de obter recursos por meio da oferta de ações traz também vantagens intangíveis, para além da captação dos valores. Quase 80% dos gestores apontam o aumento de visibilidade no mercado como um dos principais benefícios de um IPO.
Outras vantagens mencionadas frequentemente são a melhoria de processos e controles internos da empresa, a maior facilidade para continuar captando recursos e atraindo investidores após a oferta inicial e a capacidade de reter talentos.
Em suma, a listagem na bolsa traz um ganho para a reputação da empresa. Embora esse seja um valor que não pode ser facilmente precificado, ele exerce enorme influência sobre o desempenho concreto de qualquer companhia.
O valor de estar na bolsa é válido para um grande varejista que pôde adquirir uma operação de e-commerce complementar aos seus negócios sem utilizar recursos do caixa, pagando pela aquisição com ações próprias, em um processo relativamente rápido e ágil. Assim como também é válido para uma startup que, devido aos mecanismos de controle e governança exigidos para a listagem na B3, foi capaz de conquistar a confiança do mercado para estabelecer parcerias estratégicas.
Pesquisa recente do Valor Data apontou que das 170 empresas que estrearam na bolsa entre 2004 e 2019, 107 continuaram listadas, sendo que 101 delas ampliaram sua receita líquida. A maior parte das demais só não permaneceu listada porque, muitas vezes, passou por fusões ou vendas – processos, aliás, que pode ser facilitado pelo fato de a companhia ser listada em bolsa.
Isso confirma que a abertura de capital é mais do que apenas uma modalidade de captação de recursos que tem sido cada vez mais considerada pelas empresas. Embora 70% dos gestores afirmem que esse foi um motivo decisivo para a realização do IPO, cresce também a noção de que a listagem em bolsa é elemento estratégico de qualquer plano de crescimento.
A Deloitte apurou que, no momento do IPO, mais de um terço dos gestores preocupavam-se com futuras fusões e aquisições, com a sustentabilidade do negócio a longo prazo e com a redução do custo de capital. Sinais claros do amadurecimento do mercado brasileiro.
A abertura de capital amplia a notoriedade de uma empresa, franqueando-lhe o acesso a milhares de novos sócios, contribuindo para o crescimento, o fortalecimento e a perenidade do negócio. É animador, portanto, que tantas companhias, de diferentes portes e setores, estejam enxergando no IPO um mecanismo de agregação de valor. Ganham as empresas, os investidores, o mercado de capitais e toda a economia brasileira.
*Rogerio Santana é diretor de Relacionamento com Clientes da B3.
Por Rogerio Santana*
Os IPOs estão novamente sob os holofotes. Desde o início de 2020, a B3 registrou mais de 50 ofertas desse tipo. No Brasil, o recorde de IPOs (“Initial Public Offerings”) ocorreu em 2007, com 64 operações – mas os tempos eram outros. A taxa básica de juros (Selic) oscilava na casa dos 12% anuais, bem acima dos atuais 3,5%.
Essa queda na taxa de juros básica reduziu a atratividade perante os olhos do investidor de alguns produtos de renda fixa. Como resultado, vimos um volume inédito de novos investidores ingressando no mercado acionário, mesmo durante a pandemia iniciada em março de 2020. Essa nova demanda dos investidores por ativos de renda variável deu um novo impulso às ofertas de ações em bolsa.
Quer saber quais as empresas novatas com maior potencial? Leia as análises do BTG Pactual digital
Há várias causas para o fenômeno. O nível dos juros – o mais baixo da história brasileira – é a explicação mais comum para o pequeno boom de IPOs e investidores. Mas não a única. É preciso lembrar que a tecnologia vem tornando muito mais simples o processo de investimento por parte das pessoas físicas.
Além disso, nunca houve tanto conteúdo disponível sobre educação financeira e o mundo dos investimentos, graças ao trabalho da imprensa, de influenciadores digitais, corretoras, reguladores, da própria bolsa e demais participantes do mercado. Portanto não são apenas os juros que tornam a maré favorável. O mercado de capitais tem se tornado cada vez mais democrático.
Diante disso, surgem especulações e receios. Qual será o próximo IPO? Quais setores irão liderar as ofertas? Essa onda é, afinal, sustentável?
São todas questões relevantes. Porém valeria a pena considerar também outras perguntas, aquelas que frequentam com menos assiduidade os cadernos de economia ou os relatórios dos analistas financeiros: qual o custo para manter como companhia aberta? Como ter sucesso em uma oferta pública inicial? Em quais circunstâncias vale a pena ter uma companhia listada em bolsa?
Essas são, afinal, as questões mais importantes para os verdadeiros protagonistas dos IPOs, os fundadores, os sócios e os gestores das empresas.
Não há duas empresas iguais. Cada uma tem objetivos próprios e, para alcançá-los, recorre à modalidade de financiamento que lhe parece mais adequada. O IPO é uma delas, e o mercado oferece alternativas para todos – da produtora de commodities, com faturamento bilionário, até a startup promissora, cuja receita ainda é de poucos milhões ao ano. Cabe a cada empreendedor avaliar vantagens e desvantagens da abertura de capital para decidir o melhor para sua companhia. No entanto alguns dados podem orientar essa decisão.
Uma das funções básicas de um IPO é a possibilidade de a companhia captar recursos de investidores para projetos e expansões, como investimentos em novas unidades produtivas, ampliações ou mesmo aquisições. E a possibilidade de captar recursos não se resume a companhias que buscam recursos na casa dos bilhões de reais.
A consultoria Deloitte, parceira da B3, realizou uma pesquisa com dezenas de empresas de capital aberto e apurou que mais da metade delas captou no mercado montantes acima de 500 milhões de reais com o IPO. Para apenas 10% dessas empresas, o valor ficou acima dos 2 bilhões de reais. A mesma pesquisa também afirma que mais de 90% dos gestores consideram a abertura de capital como a melhor estratégia de captação de recursos.
Mas, uma vez realizado o IPO, quais seriam os custos para se manter como uma companhia listada em bolsa? No mesmo levantamento, a Deloitte concluiu que, para empresas com faturamento anual inferior a 300 milhões de reais, a média dos gastos com a manutenção do capital aberto é de 800 mil reais ao ano, ou seja, cerca de 0,3% do faturamento.
Já entre companhias com receita líquida superior a 2 bilhões de reais, esses custos são, em média, de 3,85 milhões de reais, ou menos de 0,2% do faturamento. Em outras palavras, o custo de manutenção como companhia aberta varia de acordo com o porte da empresa.
Mesmo assim, a decisão de realizar um IPO não pode se resumir aos fatores preço e custo. A decisão de obter recursos por meio da oferta de ações traz também vantagens intangíveis, para além da captação dos valores. Quase 80% dos gestores apontam o aumento de visibilidade no mercado como um dos principais benefícios de um IPO.
Outras vantagens mencionadas frequentemente são a melhoria de processos e controles internos da empresa, a maior facilidade para continuar captando recursos e atraindo investidores após a oferta inicial e a capacidade de reter talentos.
Em suma, a listagem na bolsa traz um ganho para a reputação da empresa. Embora esse seja um valor que não pode ser facilmente precificado, ele exerce enorme influência sobre o desempenho concreto de qualquer companhia.
O valor de estar na bolsa é válido para um grande varejista que pôde adquirir uma operação de e-commerce complementar aos seus negócios sem utilizar recursos do caixa, pagando pela aquisição com ações próprias, em um processo relativamente rápido e ágil. Assim como também é válido para uma startup que, devido aos mecanismos de controle e governança exigidos para a listagem na B3, foi capaz de conquistar a confiança do mercado para estabelecer parcerias estratégicas.
Pesquisa recente do Valor Data apontou que das 170 empresas que estrearam na bolsa entre 2004 e 2019, 107 continuaram listadas, sendo que 101 delas ampliaram sua receita líquida. A maior parte das demais só não permaneceu listada porque, muitas vezes, passou por fusões ou vendas – processos, aliás, que pode ser facilitado pelo fato de a companhia ser listada em bolsa.
Isso confirma que a abertura de capital é mais do que apenas uma modalidade de captação de recursos que tem sido cada vez mais considerada pelas empresas. Embora 70% dos gestores afirmem que esse foi um motivo decisivo para a realização do IPO, cresce também a noção de que a listagem em bolsa é elemento estratégico de qualquer plano de crescimento.
A Deloitte apurou que, no momento do IPO, mais de um terço dos gestores preocupavam-se com futuras fusões e aquisições, com a sustentabilidade do negócio a longo prazo e com a redução do custo de capital. Sinais claros do amadurecimento do mercado brasileiro.
A abertura de capital amplia a notoriedade de uma empresa, franqueando-lhe o acesso a milhares de novos sócios, contribuindo para o crescimento, o fortalecimento e a perenidade do negócio. É animador, portanto, que tantas companhias, de diferentes portes e setores, estejam enxergando no IPO um mecanismo de agregação de valor. Ganham as empresas, os investidores, o mercado de capitais e toda a economia brasileira.
*Rogerio Santana é diretor de Relacionamento com Clientes da B3.