A transformação do setor automotivo com a pandemia
Vendas de carros novos caíram quase 30% no último ano, ao mesmo tempo em que mudanças no comportamento dos consumidores podem impactar os negócios
Publicado em 16 de fevereiro de 2021 às, 13h20.
A Covid-19 trouxe diversas mudanças para a vida dos brasileiros, fazendo com que se adaptassem a uma nova realidade dentro e fora de casa. Algumas pessoas tiveram a oportunidade de trabalhar em suas residências e aderir às compras online, porém parte da população não teve escolha e precisou manter sua rotina diária fora de casa e sair para trabalhar. Dentre tantas situações particulares, é notável a mudança de perfil e comportamento em relação à locomoção.
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Os usuários habituais de transporte público passaram a se mostrar mais inseguros pelo risco de contaminação da Covid-19; a geração Z, de 18 a 25 anos, que era mais inclinada ao uso de veículos de aplicativos e menos à posse, passou a considerar a aquisição de um veículo; pessoas que perderam os empregos e viram o trabalho como motorista de aplicativo ou delivery como uma possibilidade de renda sentiram necessidade de possuir um veículo.
Se durante a pandemia houve essa demanda, por que o mercado de automóveis foi um dos mais afetados?
O setor automotivo vinha se recuperando desde 2018. Com a pandemia, a pausa na produção de veículos novos fez com que o mercado ficasse 28,6% abaixo do volume de vendas (nacionais e importados) no acumulado de 2020 em relação ao ano anterior, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Essa pausa levou à redução dos estoques nas concessionárias e foi associada à diminuição de renda ou insegurança dos possíveis compradores, seja pelo desemprego ou pela redução da jornada de trabalho.
Em contrapartida, com os baixos números do mercado de veículos novos, as mudanças de perfil e o comportamento da população impulsionaram fortemente a venda de carros usados. Além disso, como 40% dos veículos usados vendidos são financiados, a redução da taxa de juros aumentou o acesso ao crédito.
Segundo a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), o setor de carros seminovos e usados está em recuperação. Em dezembro, o volume de vendas foi 13,1% maior que o registrado em novembro e 23,6% maior em relação ao mesmo mês de 2019.
Isso acontece porque esses veículos usados podem apresentar algumas vantagens. Além da grande variedade de marca, modelo e ano, os preços podem ser atraentes se comparados aos zero-quilômetros, que perdem valor de revenda logo que saem da fábrica. Um carro usado completo pode ter o mesmo valor que um novo sem opcionais, por exemplo. Além disso, o seguro também é mais barato.
Para adquirir um veículo usado, é necessário ter alguns cuidados que nem sempre são primordiais ao comprar um novo. É muito importante solicitar o histórico do veículo para checar as condições do carro, a placa e o Renavam para se certificar de que o vendedor é o proprietário legítimo do veículo e negociar diretamente com ele, sem intermediários.
Além disso, contratar um laudo veicular em uma vistoria credenciada pelo Detran trará informações mais detalhadas como a avaliação de câmbio, motor, pintura, rodas, histórico de batidas, entre outras dezenas de itens, além da certeza de que o chassi não foi alterado.
A pergunta que fica é: diante de tantas mudanças, quais delas ficarão no pós-pandemia?
A projeção da Bright Consulting, que contou com dados da Anfavea e da Fenabrave, é que somente em 2022 o volume de vendas de veículos novos chegará aos níveis de 2019. Dada essa retomada lenta e gradual da produção e da distribuição de veículos novos, que deve ter acréscimo inferior a 10% ano contra ano em 2021, a demanda por veículos usados deve se manter em 2021. Vender o carro usado pode ser uma ótima oportunidade para quem precisa trocar seu automóvel ou gerar renda extra.
*Flávio Passos é vice-presidente de Autos e Comercial da OLX. Tem mais de 20 anos de carreira e ampla experiência no mundo digital e na indústria automotiva.