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É fácil criticar o governo?

Nós, jornalistas, não temos compromisso com a gestão ou fazemos parte do Executivo. Temos a obrigação de reportar os fatos e analisar os acontecimentos

Presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto (Adriano Machado/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 12 de novembro de 2021 às 12h48.

Aluizio Falcão Filho

Repetindo a pergunta do título: é fácil criticar o governo? Diariamente, milhões de brasileiros acessam as páginas da imprensa na internet, assistem TV, ouvem rádio ou leem jornais e revistas. Normalmente, a tônica é uma só: há críticas e mais críticas à administração federal e, em especial, ao presidente Jair Bolsonaro. Alguns amigos, quase todas as manhãs, reagem mal aos ataques e repetem o mesmo mantra em alguns grupos de WhatsApp que participo: “falar mal é fácil”.

Sim, criticar é fácil. Nós, jornalistas, não temos compromisso com a gestão ou fazemos parte do Executivo. Temos a obrigação de reportar os fatos e, em determinados casos, analisar os acontecimentos. No momento em que estamos analisando algo, podemos concordar ou discordar com determinadas atitudes do governo – sejam elas de teor prático ou não.

Exerço a profissão de jornalista há mais de trinta anos e, quando comecei a trabalhar, o presidente era José Sarney. De lá para cá, testemunhei a cobertura jornalística de todos os mandatários: tirando os primeiros 24 meses de Fernando Henrique e o ano inicial de Luiz Inácio Lula da Silva, nunca houve um presidente que tivesse vida fácil no conteúdo publicado pelos veículos.

Sarney, com uma política econômica claudicante, foi destroçado diariamente pela imprensa. Fernando Collor, com a ideia esdrúxula de sequestrar o dinheiro dos brasileiros e dono de uma atitude belicosa, idem. Itamar sofreu mais ironias que críticas ácidas, mas conseguiu dominar a inflação em seu último ano de governo. FHC obteve trégua na fase inicial do primeiro mandato, mas seu esforço pela reeleição causou certa antipatia por parte da imprensa; Lula foi deixado em paz no primeiro ano. Mas, depois, com a eclosão do caso Waldomiro Diniz, seguiu-se o Mensalão, que colocou vários colunistas em seus calcanhares. Veio o governo Dilma Rousseff e os jornalistas rapidamente perceberam a inconsistência da política econômica, além do despreparo de quem ocupava o Palácio do Planalto. Com o impeachment, Michel Temer assumiu e conseguiu pacificar o cenário político por algum tempo – mas as gravações do empresário Joesley Batista deram início a uma fase de apupos e desaprovações. Por fim, temos Jair Bolsonaro – e, novamente, tivemos uma saraivada de repreensões (talvez em um número bem superior às alfinetadas levadas por seus antecessores).

O governo atual, de fato, apanha mais que os anteriores. Porém, temos aqui uma situação diferente: Bolsonaro parece provocar diariamente os jornalistas e os veículos onde trabalham. Estamos em uma situação “ovo ou a galinha” neste tópico. Não sabemos mais quem iniciou essa guerra de provocações – mas os dois lados estão engajados em uma batalha feroz e não pretendem recuar.

Ocorre que os jornalistas não são movidos apenas por suas opiniões pessoais ou pela ideologia do veículo no qual trabalham. Eles são orientados também pelo interesse de seus leitores, pela audiência de seus telespectadores ou ouvintes e pelo volume de internautas que acessam as suas páginas.

Neste quesito, percebe-se que a economia vacilante, com alta inflação, prejudicou o governo e fez o público leitor (ou espectador) irritar-se com o presidente. Ou seja, a impressão que se tem é a de que boa parte do público se identifica com notícias negativas.

Posso dar um exemplo ocorrido ontem em Money Report. Publicamos duas notas com acontecimentos positivos para o governo: uma sobre uma simplificação feita em cima das regras trabalhistas vigentes no país (por enquanto, apenas as regras que podem ser mudadas sem autorização do Congresso). Mais de mil decretos, portarias, instruções normativas trabalhistas foram reunidas em apenas 15 normas – uma decisão que merece aplausos. Além disso, o presidente anunciou que a desoneração da Folha de Pagamentos, que teria fim em dezembro, vai durar mais dois anos – uma medida que há muito estava sendo pleiteada pelos empresários. Pois bem. Essas duas notas estão entre as de menor leitura do portal no dia de ontem. Parece que as pessoas estão querendo extravasar as suas críticas e não relutam em ignorar as boas notícias.

Assim, devemos nos perguntar: os brasileiros estão sendo manipulados pela imprensa, que só publica notícias ruins, ou a imprensa está dando aos brasileiros aquilo que eles e elas querem ouvir e ler?

Nem todos os veículos são críticos a Bolsonaro. Há publicações, canais de TV e estações de rádio que se pautam pelos feitos positivos do governo e atacam sistematicamente a oposição. Os apoiadores do governo dizem que esses veículos são imparciais. Na verdade, não são. São órgãos de imprensa parciais, só que com o viés trocado.

Quem está certo?

Veículos de comunicação são propriedades privadas e seguem a orientação de seus controladores. Ou seja, passam por um filtro, que varia de acordo com o que pensam seus donos. Portanto, estamos em um terreno da subjetividade total, no qual um órgão de imprensa pode estar certíssimo ou erradíssimo. Isso depende unicamente da avaliação do leitor, telespectador ou ouvinte.

Concordar ou não com o que se publica é perfeitamente normal. E um dos grandes benefícios de viver em uma democracia. Portanto, não há certo ou errado. Apenas opiniões, que podem fomentar debates e troca de ideias – de forma civilizada ou não.

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Aluizio Falcão Filho

Repetindo a pergunta do título: é fácil criticar o governo? Diariamente, milhões de brasileiros acessam as páginas da imprensa na internet, assistem TV, ouvem rádio ou leem jornais e revistas. Normalmente, a tônica é uma só: há críticas e mais críticas à administração federal e, em especial, ao presidente Jair Bolsonaro. Alguns amigos, quase todas as manhãs, reagem mal aos ataques e repetem o mesmo mantra em alguns grupos de WhatsApp que participo: “falar mal é fácil”.

Sim, criticar é fácil. Nós, jornalistas, não temos compromisso com a gestão ou fazemos parte do Executivo. Temos a obrigação de reportar os fatos e, em determinados casos, analisar os acontecimentos. No momento em que estamos analisando algo, podemos concordar ou discordar com determinadas atitudes do governo – sejam elas de teor prático ou não.

Exerço a profissão de jornalista há mais de trinta anos e, quando comecei a trabalhar, o presidente era José Sarney. De lá para cá, testemunhei a cobertura jornalística de todos os mandatários: tirando os primeiros 24 meses de Fernando Henrique e o ano inicial de Luiz Inácio Lula da Silva, nunca houve um presidente que tivesse vida fácil no conteúdo publicado pelos veículos.

Sarney, com uma política econômica claudicante, foi destroçado diariamente pela imprensa. Fernando Collor, com a ideia esdrúxula de sequestrar o dinheiro dos brasileiros e dono de uma atitude belicosa, idem. Itamar sofreu mais ironias que críticas ácidas, mas conseguiu dominar a inflação em seu último ano de governo. FHC obteve trégua na fase inicial do primeiro mandato, mas seu esforço pela reeleição causou certa antipatia por parte da imprensa; Lula foi deixado em paz no primeiro ano. Mas, depois, com a eclosão do caso Waldomiro Diniz, seguiu-se o Mensalão, que colocou vários colunistas em seus calcanhares. Veio o governo Dilma Rousseff e os jornalistas rapidamente perceberam a inconsistência da política econômica, além do despreparo de quem ocupava o Palácio do Planalto. Com o impeachment, Michel Temer assumiu e conseguiu pacificar o cenário político por algum tempo – mas as gravações do empresário Joesley Batista deram início a uma fase de apupos e desaprovações. Por fim, temos Jair Bolsonaro – e, novamente, tivemos uma saraivada de repreensões (talvez em um número bem superior às alfinetadas levadas por seus antecessores).

O governo atual, de fato, apanha mais que os anteriores. Porém, temos aqui uma situação diferente: Bolsonaro parece provocar diariamente os jornalistas e os veículos onde trabalham. Estamos em uma situação “ovo ou a galinha” neste tópico. Não sabemos mais quem iniciou essa guerra de provocações – mas os dois lados estão engajados em uma batalha feroz e não pretendem recuar.

Ocorre que os jornalistas não são movidos apenas por suas opiniões pessoais ou pela ideologia do veículo no qual trabalham. Eles são orientados também pelo interesse de seus leitores, pela audiência de seus telespectadores ou ouvintes e pelo volume de internautas que acessam as suas páginas.

Neste quesito, percebe-se que a economia vacilante, com alta inflação, prejudicou o governo e fez o público leitor (ou espectador) irritar-se com o presidente. Ou seja, a impressão que se tem é a de que boa parte do público se identifica com notícias negativas.

Posso dar um exemplo ocorrido ontem em Money Report. Publicamos duas notas com acontecimentos positivos para o governo: uma sobre uma simplificação feita em cima das regras trabalhistas vigentes no país (por enquanto, apenas as regras que podem ser mudadas sem autorização do Congresso). Mais de mil decretos, portarias, instruções normativas trabalhistas foram reunidas em apenas 15 normas – uma decisão que merece aplausos. Além disso, o presidente anunciou que a desoneração da Folha de Pagamentos, que teria fim em dezembro, vai durar mais dois anos – uma medida que há muito estava sendo pleiteada pelos empresários. Pois bem. Essas duas notas estão entre as de menor leitura do portal no dia de ontem. Parece que as pessoas estão querendo extravasar as suas críticas e não relutam em ignorar as boas notícias.

Assim, devemos nos perguntar: os brasileiros estão sendo manipulados pela imprensa, que só publica notícias ruins, ou a imprensa está dando aos brasileiros aquilo que eles e elas querem ouvir e ler?

Nem todos os veículos são críticos a Bolsonaro. Há publicações, canais de TV e estações de rádio que se pautam pelos feitos positivos do governo e atacam sistematicamente a oposição. Os apoiadores do governo dizem que esses veículos são imparciais. Na verdade, não são. São órgãos de imprensa parciais, só que com o viés trocado.

Quem está certo?

Veículos de comunicação são propriedades privadas e seguem a orientação de seus controladores. Ou seja, passam por um filtro, que varia de acordo com o que pensam seus donos. Portanto, estamos em um terreno da subjetividade total, no qual um órgão de imprensa pode estar certíssimo ou erradíssimo. Isso depende unicamente da avaliação do leitor, telespectador ou ouvinte.

Concordar ou não com o que se publica é perfeitamente normal. E um dos grandes benefícios de viver em uma democracia. Portanto, não há certo ou errado. Apenas opiniões, que podem fomentar debates e troca de ideias – de forma civilizada ou não.

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