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Crypto e IA: o poderoso duo impulsionando a próxima revolução tecnológica

O mercado de semicondutores deve alcançar 1 trilhão de dólares até 2030, impulsionado pela demanda de IA e blockchain

Pré-MBA em Inteligência Artificial para Negócios (Freepik)
Alexandre Ludolf

Colunista - Instituto Millenium

Publicado em 17 de outubro de 2024 às 17h03.

Nos últimos anos, tenho observado uma transformação sem precedentes no setor financeiro. Duas forças revolucionárias estão no centro dessa mudança: criptomoedas e inteligência artificial (IA). O que antes parecia ficção científica está se tornando nossa realidade cotidiana, redefinindo não apenas as finanças, mas setores inteiros como saúde, logística e energia.

A sinergia entre sistemas descentralizados e IA está no coração dessa revolução. No setor financeiro, o Decentralized Finance (DeFi) surgiu como uma alternativa robusta aos bancos tradicionais. É impressionante ver como, em 2024, as aplicações DeFi já representam 40% de todas as transações cripto, um salto significativo dos 18% em 2021. Essas plataformas estão democratizando o acesso aos serviços financeiros de uma forma que eu nunca imaginei possível há uma década. Segundo o relatório State of Crypto 2024, esse movimento tem sido impulsionado por um aumento significativo na confiança e na adoção de soluções descentralizadas.

O potencial de inclusão financeira dessas tecnologias é notável. Em países em desenvolvimento, onde grandes parcelas da população permanecem não-bancarizadas, as criptomoedas e o DeFi oferecem uma porta de entrada para o sistema financeiro global. Por exemplo, no Quênia, o uso de criptomoedas para remessas internacionais cresceu 300% nos últimos dois anos, reduzindo significativamente os custos de transação para famílias que dependem desse fluxo financeiro.

Mas a influência das criptomoedas vai muito além das finanças. A tecnologia blockchain está permeando indústrias que antes pareciam imunes à transformação digital. Na cadeia de suprimentos global, por exemplo, o uso de DLT (livro-razão distribuído) com blockchain está trazendo um nível de transparência e responsabilidade que antes parecia utópico. Na área da saúde, blockchains privados estão sendo usados para garantir a integridade e a privacidade de registros médicos, enquanto a IA auxilia no diagnóstico e no desenvolvimento de tratamentos personalizados.

A demanda por essas novas tecnologias está impulsionando um boom na indústria de semicondutores. As projeções indicam que esse mercado deve alcançar a impressionante marca de 1 trilhão de dólares até 2030. É um ciclo de feedback fascinante: a IA exige mais poder computacional, o que impulsiona a inovação em semicondutores, que por sua vez possibilita sistemas de IA mais sofisticados. O relatório aponta que a inovação nesse espaço está sendo liderada pela necessidade de otimização de operações blockchain e de IA, criando um ciclo virtuoso de avanço tecnológico.

No entanto, nem tudo são flores nesse jardim tecnológico. O consumo de energia dos sistemas blockchain, particularmente a mineração de Bitcoin, é uma preocupação real. Com a mineração de Bitcoin consumindo 120 terawatts-hora de eletricidade por ano, equivalente ao consumo de algumas nações, é impossível ignorar o impacto ambiental. Felizmente, inovações impulsionadas pela IA começam a oferecer soluções para melhorar a eficiência energética nas operações de mineração descentralizadas, como já indicado no relatório State of Crypto 2024.

A fronteira mais empolgante, na minha opinião, é a integração da IA em sistemas descentralizados. Imagine plataformas DeFi usando IA para avaliar riscos de crédito, ou cadeias de suprimentos globais utilizando modelos preditivos de IA para otimizar rotas e estoques em tempo real. O relatório State of Crypto 2024 já aponta que o DeFi está se tornando mais inteligente, impulsionado por inovações em machine learning e análises preditivas.

Mas com esse potencial vêm novos desafios. A questão da privacidade dos dados é particularmente espinhosa. Como equilibrar a necessidade de dados da IA com a promessa de privacidade do blockchain? É uma pergunta que ainda estamos lutando para responder, especialmente quando pensamos nos princípios de descentralização e privacidade que sustentam a filosofia por trás do cripto.

A cibersegurança emerge como outra preocupação crítica. À medida que mais valor é transferido para sistemas descentralizados, eles se tornam alvos mais atraentes para hackers. Em 2023, ataques a protocolos DeFi resultaram em perdas de mais de $500 milhões. A IA está sendo empregada para detectar e prevenir esses ataques, mas é uma corrida armamentista constante entre defensores e atacantes.

Além disso, há o risco de que a centralização volte a se infiltrar. Embora o cripto tenha sido fundado nos princípios de descentralização, a infraestrutura necessária para operar sistemas avançados de IA está se tornando cada vez mais centralizada. É uma ironia que não podemos ignorar: empresas que controlam os recursos computacionais necessários podem acabar concentrando um poder que, em tese, deveria estar distribuído.

O cenário regulatório também está evoluindo rapidamente. Governos ao redor do mundo estão lutando para acompanhar o ritmo da inovação. Alguns países, como El Salvador, abraçaram as criptomoedas, enquanto outros, como a China, as baniram completamente. Nos EUA e na União Europeia, reguladores estão trabalhando em estruturas que busquem equilibrar inovação e proteção ao consumidor. As Moedas Digitais de Bancos Centrais (CBDCs) estão ganhando tração como uma resposta dos governos às criptomoedas privadas, com potenciais implicações significativas para o futuro do dinheiro.

Apesar desses desafios, o potencial dessa convergência entre IA e cripto é inegável. Estamos à beira de uma nova fronteira onde essas tecnologias não são apenas complementares, mas interdependentes. Desde redes de energia otimizadas até sistemas de saúde mais eficientes, as possibilidades parecem infinitas. NFTs (tokens não fungíveis), por exemplo, estão permitindo que artistas vendam seu trabalho de maneiras inéditas, enquanto a IA ajuda a curar e distribuir conteúdo de forma mais eficiente.

No entanto, não podemos esquecer das implicações sociais e éticas. A convergência entre IA e cripto tem o potencial de exacerbar desigualdades existentes se não for gerenciada cuidadosamente. O acesso a recursos computacionais e a capacidade de implantar IA em larga escala podem gerar vantagens para poucos, em detrimento de muitos. Além disso, à medida que a automação avança, impulsionada pela IA, muitos empregos tradicionais podem ser ameaçados. Será crucial repensar a educação e o treinamento para preparar a força de trabalho para essa nova realidade.

Para o consumidor médio, essas mudanças podem parecer distantes, mas seu impacto será profundo. Imagine um mundo onde seu refrigerador, equipado com IA, possa automaticamente reestocar itens, fazendo pagamentos via criptomoedas sem sua intervenção. Ou onde seu histórico médico esteja seguramente armazenado em uma blockchain, acessível instantaneamente por qualquer médico que você autorize, em qualquer lugar do mundo.

Em última análise, IA e cripto representam uma mudança de paradigma. Elas estão redefinindo como pensamos sobre valor, confiança e propriedade na era digital. O futuro pode ser incerto, mas uma coisa é clara: essas tecnologias continuarão a moldar nossa realidade nos próximos anos. Estejamos prontos ou não, o mundo já está mudando. Nossa tarefa agora é garantir que essa mudança beneficie a todos, não apenas alguns poucos privilegiados.

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Nos últimos anos, tenho observado uma transformação sem precedentes no setor financeiro. Duas forças revolucionárias estão no centro dessa mudança: criptomoedas e inteligência artificial (IA). O que antes parecia ficção científica está se tornando nossa realidade cotidiana, redefinindo não apenas as finanças, mas setores inteiros como saúde, logística e energia.

A sinergia entre sistemas descentralizados e IA está no coração dessa revolução. No setor financeiro, o Decentralized Finance (DeFi) surgiu como uma alternativa robusta aos bancos tradicionais. É impressionante ver como, em 2024, as aplicações DeFi já representam 40% de todas as transações cripto, um salto significativo dos 18% em 2021. Essas plataformas estão democratizando o acesso aos serviços financeiros de uma forma que eu nunca imaginei possível há uma década. Segundo o relatório State of Crypto 2024, esse movimento tem sido impulsionado por um aumento significativo na confiança e na adoção de soluções descentralizadas.

O potencial de inclusão financeira dessas tecnologias é notável. Em países em desenvolvimento, onde grandes parcelas da população permanecem não-bancarizadas, as criptomoedas e o DeFi oferecem uma porta de entrada para o sistema financeiro global. Por exemplo, no Quênia, o uso de criptomoedas para remessas internacionais cresceu 300% nos últimos dois anos, reduzindo significativamente os custos de transação para famílias que dependem desse fluxo financeiro.

Mas a influência das criptomoedas vai muito além das finanças. A tecnologia blockchain está permeando indústrias que antes pareciam imunes à transformação digital. Na cadeia de suprimentos global, por exemplo, o uso de DLT (livro-razão distribuído) com blockchain está trazendo um nível de transparência e responsabilidade que antes parecia utópico. Na área da saúde, blockchains privados estão sendo usados para garantir a integridade e a privacidade de registros médicos, enquanto a IA auxilia no diagnóstico e no desenvolvimento de tratamentos personalizados.

A demanda por essas novas tecnologias está impulsionando um boom na indústria de semicondutores. As projeções indicam que esse mercado deve alcançar a impressionante marca de 1 trilhão de dólares até 2030. É um ciclo de feedback fascinante: a IA exige mais poder computacional, o que impulsiona a inovação em semicondutores, que por sua vez possibilita sistemas de IA mais sofisticados. O relatório aponta que a inovação nesse espaço está sendo liderada pela necessidade de otimização de operações blockchain e de IA, criando um ciclo virtuoso de avanço tecnológico.

No entanto, nem tudo são flores nesse jardim tecnológico. O consumo de energia dos sistemas blockchain, particularmente a mineração de Bitcoin, é uma preocupação real. Com a mineração de Bitcoin consumindo 120 terawatts-hora de eletricidade por ano, equivalente ao consumo de algumas nações, é impossível ignorar o impacto ambiental. Felizmente, inovações impulsionadas pela IA começam a oferecer soluções para melhorar a eficiência energética nas operações de mineração descentralizadas, como já indicado no relatório State of Crypto 2024.

A fronteira mais empolgante, na minha opinião, é a integração da IA em sistemas descentralizados. Imagine plataformas DeFi usando IA para avaliar riscos de crédito, ou cadeias de suprimentos globais utilizando modelos preditivos de IA para otimizar rotas e estoques em tempo real. O relatório State of Crypto 2024 já aponta que o DeFi está se tornando mais inteligente, impulsionado por inovações em machine learning e análises preditivas.

Mas com esse potencial vêm novos desafios. A questão da privacidade dos dados é particularmente espinhosa. Como equilibrar a necessidade de dados da IA com a promessa de privacidade do blockchain? É uma pergunta que ainda estamos lutando para responder, especialmente quando pensamos nos princípios de descentralização e privacidade que sustentam a filosofia por trás do cripto.

A cibersegurança emerge como outra preocupação crítica. À medida que mais valor é transferido para sistemas descentralizados, eles se tornam alvos mais atraentes para hackers. Em 2023, ataques a protocolos DeFi resultaram em perdas de mais de $500 milhões. A IA está sendo empregada para detectar e prevenir esses ataques, mas é uma corrida armamentista constante entre defensores e atacantes.

Além disso, há o risco de que a centralização volte a se infiltrar. Embora o cripto tenha sido fundado nos princípios de descentralização, a infraestrutura necessária para operar sistemas avançados de IA está se tornando cada vez mais centralizada. É uma ironia que não podemos ignorar: empresas que controlam os recursos computacionais necessários podem acabar concentrando um poder que, em tese, deveria estar distribuído.

O cenário regulatório também está evoluindo rapidamente. Governos ao redor do mundo estão lutando para acompanhar o ritmo da inovação. Alguns países, como El Salvador, abraçaram as criptomoedas, enquanto outros, como a China, as baniram completamente. Nos EUA e na União Europeia, reguladores estão trabalhando em estruturas que busquem equilibrar inovação e proteção ao consumidor. As Moedas Digitais de Bancos Centrais (CBDCs) estão ganhando tração como uma resposta dos governos às criptomoedas privadas, com potenciais implicações significativas para o futuro do dinheiro.

Apesar desses desafios, o potencial dessa convergência entre IA e cripto é inegável. Estamos à beira de uma nova fronteira onde essas tecnologias não são apenas complementares, mas interdependentes. Desde redes de energia otimizadas até sistemas de saúde mais eficientes, as possibilidades parecem infinitas. NFTs (tokens não fungíveis), por exemplo, estão permitindo que artistas vendam seu trabalho de maneiras inéditas, enquanto a IA ajuda a curar e distribuir conteúdo de forma mais eficiente.

No entanto, não podemos esquecer das implicações sociais e éticas. A convergência entre IA e cripto tem o potencial de exacerbar desigualdades existentes se não for gerenciada cuidadosamente. O acesso a recursos computacionais e a capacidade de implantar IA em larga escala podem gerar vantagens para poucos, em detrimento de muitos. Além disso, à medida que a automação avança, impulsionada pela IA, muitos empregos tradicionais podem ser ameaçados. Será crucial repensar a educação e o treinamento para preparar a força de trabalho para essa nova realidade.

Para o consumidor médio, essas mudanças podem parecer distantes, mas seu impacto será profundo. Imagine um mundo onde seu refrigerador, equipado com IA, possa automaticamente reestocar itens, fazendo pagamentos via criptomoedas sem sua intervenção. Ou onde seu histórico médico esteja seguramente armazenado em uma blockchain, acessível instantaneamente por qualquer médico que você autorize, em qualquer lugar do mundo.

Em última análise, IA e cripto representam uma mudança de paradigma. Elas estão redefinindo como pensamos sobre valor, confiança e propriedade na era digital. O futuro pode ser incerto, mas uma coisa é clara: essas tecnologias continuarão a moldar nossa realidade nos próximos anos. Estejamos prontos ou não, o mundo já está mudando. Nossa tarefa agora é garantir que essa mudança beneficie a todos, não apenas alguns poucos privilegiados.

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