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Inteligência emocional, a habilidade que te projeta, afirma Carlos Tonnus

Na coluna desta semana, conheça a história de Carlos Henrique Martins Tonnus, presidente na Gi Group Holding do Brasil

Fabiana Monteiro
Fabiana Monteiro

Publicado em 16 de fevereiro de 2024 às, 12h19.

Uma característica que carrego comigo desde a infância é a autonomia. Meus pais sempre deram, a mim e aos meus irmãos, esta independência. Em nossa família, o diálogo era algo presente e rotineiro. Lembro que conversávamos muito e eles ouviam e deliberavam sobre nossos pontos de vista com sabedoria e paciência.  

Nasci na cidade de Santo André, mas logo me mudei para a cidade de Mauá, ambas na grande São Paulo. A nossa residência era basicamente cinco minutos distante do local de trabalho do meu pai, José Carlos, engenheiro que atuou a vida inteira no setor automotivo, em uma única empresa, a TRW. Minha mãe, por sua vez, era conhecida como a professora Cleuza e lecionava em escolas do Estado e do município.  

Os primeiros anos de estudo foram lapidados dentro de um colégio de freiras. E ao iniciar o Ensino Médio optei por fazer um curso na Escola Técnica Federal de São Paulo. A partir daquele momento conheci outras realidades, uma vez que estudava e convivia com amigos da capital paulista. Este movimento despertou-me o interesse em viver e conhecer mais as chances presentes dentro de uma cidade grande, onde era possível ter acesso a muitos recursos que poderiam ajudar no desenvolvimento profissional.  

Aos 17 anos, prestes a me formar, fiz o estágio obrigatório em uma empresa local de médio porte do setor automotivo, a Feeder. E dois anos após concluir o Ensino Médio, aos 19, já estava efetivado e era responsável por três turnos e uma equipe. Algumas competências me colocaram em evidência na ocasião: o fato de ter feito intercâmbio no Canadá, o que me proporcionou um inglês diferenciado dentro da empresa; e a conclusão do curso técnico, que me trouxe a familiaridade com computadores ou máquinas programadas por computadores.  

Tudo fluía bem e seguia o ritmo, mas trabalhando ali vivi duas experiências distintas: ao mesmo tempo em que conseguia ter acesso a muitas possibilidades, também compreendia que não era aquilo que queria para a minha carreira. O meu sonho era outro. E haveria de encontrar o caminho para ele.  

Hora da virada 

Foi durante este período que compreendi que não gostaria de estudar Engenharia e que me daria melhor em outros setores da indústria. Eu prestei vestibular para diferentes universidades e cursos e optei por Administração – Habilitação em Comércio Exterior na Universidade Municipal de São Caetano do Sul (IMES). A vida acadêmica ganhou continuidade, anos depois, com uma pós-graduação na Universidade de Riverside, em Global Business Management (2006); e com um MBA em Gestão Financeira de Empresas na Fundação Getúlio Vargas (2009). Nunca parei de estudar e me aperfeiçoar, pois tenho comigo que estudar é algo para a vida toda.  

Voltando ao período do vestibular, o fato é que decidi mudar de ares. Na época cursava Administração com habilitação em Comércio Exterior e queria me aprofundar e conhecer mais aquilo que aprendia na teoria. Contudo, infelizmente não conseguia aplicar nada do que via no dia a dia, mesmo gerindo uma equipe, porque eram as habilidades técnicas as exigidas. E eu, naquele momento, queria entender um pouco mais das questões de soft skills. E isto me causou uma inquietação, pois eram realidades diferentes. Hora de mudar o curso da minha história. 

Em 2000, fui para a Arthur Andersen, uma empresa de auditoria. E ali dei os passos iniciais para a construção da carreira que tenho hoje. Isto não quer dizer que esteja desconsiderando o período em que trabalhei na indústria. Na verdade, este tempo foi crítico para entender a importância de ter competências diferenciadas e tomar a decisão que considerava mais adequada.  

Sou movido por desafios. E estar em uma companhia onde se trabalha com projetos diferentes, entendendo a realidade de cada cliente, me conectou com a empresa e seu propósito. Estava imerso dentro de um ambiente de trabalho saudável, ético e amigável, e isso contribuiu muito para me adaptar de uma maneira rápida à nova rotina. Assim, tive a oportunidade de aprender, não só através dos treinamentos, mas também pela experiência dos projetos e pelo convívio com os colegas de trabalho, algo que buscava há algum tempo. 

Como líder, invista no desenvolvimento de pessoas e faça o seu melhor  

Em dois anos de Arthur Andersen, interagi e liderei projetos pela empresa do Brasil. Como consultor, foquei na experiência dos clientes e dos profissionais e compreendi a importância de investir no desenvolvimento dos profissionais. Em 2002, fui convidado para ir para a Ernst & Young e ali construir a área de Consultoria em Mobilidade Global e posteriormente a de Gestão de Pessoas. Permaneci nesta organização até 2017 e desenvolvi diferentes projetos dentro da mesma empresa. Entre eles, destaco a mudança de localidade de São Paulo para o Rio de Janeiro entre 2004 e 2014; o fato de ter sido promovido a sócio com apenas 32 anos de idade; e o feito de ter assumido a liderança da Unidade de Negócios de Consultoria em Gestão de Pessoas para América do Sul com apenas 35 anos. Em 2016, assumi outros papéis concomitantes dentro da Ernst & Young do Brasil, além de ser o líder Regional de Consultoria em Gestão de Pessoas, e um dos membros dos comitês Executivo e do Plano de Pensão dos profissionais da Empresa Brasileira. Estas experiências me fizeram entender a dinâmica desses fóruns, ter acesso a diferentes conhecimentos e posicionamentos, e também a lidar com temas sensíveis e gerir riscos.  

Em 2017, aceitei o convite de uma empresa de Executive Search e de Consultoria especializada em Gestão de Pessoas, que trazia a proposta de um projeto que me possibilitaria aportar valor com base em minha experiência e competências, bem como aprender sobre novas soluções e atuar em uma empresa de capital aberto nos EUA. Na prática, eu me colocaria como executivo (e não consultor) após a integração de um processo de aquisição (M & A – Merger & Acquisition). O cargo? Presidente na América do Sul da empresa Korn Ferry Hay Group. Fiquei lá até o fim de 2019. 

No início de 2020, recebi o convite para ser presidente da italiana Gi Group Holding do Brasil, liderando nove marcas diferentes com soluções desde recrutamento e seleção, passando pela gestão de terceiros (temporários e BPO), treinamento e desenvolvimento até transição de carreiras (outplacement).  

Liderar é estar em constante aprendizado 

A comunicação é algo crítico para um líder. Ele precisa saber dialogar com a equipe, com os acionistas e com o mercado. E, para que isso saia de acordo, entra em cena a inteligência emocional. Os imprevistos acontecem no dia a dia, e cabe ao líder ter a capacidade de analisar, se automotivar, se adaptar e fazer a gestão de riscos. Ele precisa se comunicar com diferentes stakeholders, e para cada um deles adapta a comunicação.  

Incentivar a inovação em qualquer aspecto também é importante, desde a melhoria de um simples processo até questões relacionadas a tendências de tecnologia. O profissional precisa ser incansável na busca de inovação e ter resiliência sempre que necessário. Por isso, a vontade de aprender deve ser constante. E só assim, com este desejo latente, se consegue incentivar este sentimento dentro da própria empresa.  

Vale lembrar que no mercado de hoje, com a complexidade em que vivemos, a capacidade analítica também se faz fundamental. Conseguir ler ambientes, ler números, transformar tudo isso em conhecimento e ser capaz de traçar um plano estratégico é uma qualidade inquestionável! 

Inteligência emocional, a habilidade que te projeta  

A inteligência emocional deve fazer parte do dia a dia do executivo, para que ele passe por momentos de pressão e tensão sem atingir o nível máximo de estresse. Se tiver esta habilidade, conseguirá agir com calma e saberá como lidar com as dificuldades sem gerar uma estafa mental capaz de prejudicar a sua saúde, os seus relacionamentos e as suas tomadas de decisão.  

De forma geral, consigo lidar muito bem com o estresse e com situações complexas. Mas houve dois momentos de insucesso. No primeiro, enfrentei situações que afetaram os meus valores e não consegui suportar aquilo, não internalizei de forma tão clara, quebrei o laço com a empresa e perdi o encantamento. Na verdade, cheguei ao limite.  

Já na segunda ocasião eu externalizei, o que foi pior, porque quando assim se faz, dependendo da forma, perde-se a inteligência emocional. E esta externalização pode ocorrer de diferentes formas: desde a forma verbal ou escrita, até um afastamento físico ou virtual da liderança da empresa e quando isso ocorre fica nítido para todos.  

Na ocasião, internamente percebi que não consegui entender que a empresa funcionava daquela forma e que o erro não foi da companhia, em nenhum dos dois casos. O erro foi meu, pois a empresa sempre foi daquele jeito. É nessa hora que a inteligência emocional ajuda não só na forma como se reage à situação, mas principalmente a fazer uma análise isenta dos fatos e não tomar nenhuma decisão precipitada diante de qualquer situação.  

Domine o inglês e torne-o seu aliado 

Ter condições para se comunicar em outras línguas é algo fundamental para o sucesso. E quando passei a compor o quadro de funcionários de uma empresa global, o primeiro desafio que encontrei foi o idioma. No caso, ingressei dentro da área internacional e tinha que, necessariamente, falar inglês. Dominar esta habilidade exigiu de mim estudo e perseverança. Tive que dar o melhor e acreditar em mim, sempre!  

Esta mesma força também esteve comigo quando passei a trabalhar com diretores, presidentes e lideranças, pessoas com muita bagagem e conhecimento. Se não acreditasse no meu potencial, não conseguiria passar o meu ponto de vista àqueles que me ouvissem.  

O fato é que é preciso saber se comunicar, esta é uma habilidade inquestionável. E isso passa não só por falar a língua corretamente, como também em saber ouvir e conseguir passar a mensagem de forma adequada, de forma que tudo faça sentido. Acredito que o desenvolvimento de uma comunicação ampla é algo recorrente e contínuo, que nunca paramos de exercitar.  

Trabalhe o autoconhecimento e descubra seus pontos fortes e fracos 

O aprendizado contínuo também passa pelo autoconhecimento. Por trabalhar em consultoria de Recursos Humanos, conheço um pouco dos instrumentos da área, e uso alguns deles. A cada dois anos, por exemplo, faço o que chamamos de assessment, uma ferramenta que consegue fazer um diagnóstico e mostrar as habilidades, competências, potencial de liderança, perspectivas de desenvolvimento e os traços de cada pessoa. Como venho fazendo esta análise a cada dois anos, consigo acompanhar a minha evolução com o passar do tempo. Aconselho os executivos a procurarem e conhecerem mais o que existe hoje dentro do desenvolvimento de pessoas. Em questões pontuais também cresci muito com o trabalho do coaching. Sempre que mudei de uma atividade para outra, recorri a estes profissionais e me foi muito benéfico.  

Pessoalmente aprendi muito mais com os mentores, porque gosto de entender na prática. E tenho como mentores não só pessoas que estão em uma posição semelhante à minha. Se tenho que lidar com o conselho, vou procurar alguém que esteja no conselho. Se tenho que atender o dono de uma empresa, vou procurar alguém que seja dono de empresa para conhecer o lado dele, não me fechar em uma única visão ou ponto de vista. Exercito a escuta ativa e aprendo com diferentes experiências.  

Contudo, o coaching me despertou para o autoconhecimento, me mostrou que era preciso me conhecer, não naquilo que estava transmitindo e falando, mas me conhecer realmente, fazendo testes, compreendendo o outro lado. Então, posso dizer que o coach teve um papel relevante na minha carreira também.  

ESG: prioridade para garantir o futuro da sociedade.  

Se os profissionais e as empresas não priorizarem o ESG, certamente teremos um futuro mais incerto e complexo. No caso de um profissional que trabalha com serviços profissionais no ecossistema de capital humano é preciso focar no desenvolvimento da sociedade para ter pessoas capacitadas para exercer as atividades do futuro. Dentro da Gi Group, onde estou agora, a Fondazione, na Itália, e o Instituto Gi, no Brasil, tem este propósito. Pessoalmente, estou tendo a oportunidade de construir um legado que ajudará na sustentabilidade do mercado de trabalho e que está totalmente conectado com o meu propósito de vida pessoal, que é ajudar as pessoas no dia a dia. 

Dicas de ouro para uma carreira de sucesso  

 Se a dúvida sobre qual caminho seguir surgir em sua mente, procure responder estas perguntas: Aonde quero ir? O que quero construir? Quais habilidades quero desenvolver?  Dedique-se muito e ofereça o seu melhor. É o que faço todos os dias. E acredito que, por agir assim, tudo foi acontecendo para mim. 

Conecte-se com pessoas com empatia; construa redes de relacionamentos, esteja com diferentes pessoas e profissionais, em diferentes ambientes, de acordo com a sua ambição e plano de carreira. E tenha em mente que o desenvolvimento deve continuar. Aceite os desafios que aparecerem pela frente e transforme-os em oportunidades ao longo da jornada.  

Livro: Inteligência Positiva, Shirzad Chamine, Editora Fontanar