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A essência ética de uma eterna empreendedora e vendedora

Na coluna desta semana, conheça a história de Shirley Fernandes, Sócia-Diretora da N1 IT

 (Blog/Reprodução)
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Histórias de sucesso

Publicado em 10 de março de 2023 às, 15h48.

Por Fabiana Monteiro

Paulistana, sou filha, com muito orgulho, da Maria Dulcinéia Fernandes e do Eduardo Pinto Fernandes. Minha mãe era consultora de vendas da Porcelana Schmidt, apaixonada pela marca, algo que “puxei” dela, em relação à dedicação e ao amor aplicados em meu trabalho. Após o casamento e o nascimento dos filhos, ela parou de trabalhar – algo culturalmente comum naquela época –, mas sempre manteve a mente à frente do seu tempo. Já meu pai era mais conectado com a parte racional, de números, atuando como contador, inclusive com o seu próprio escritório de contabilidade.

Sou a primogênita de três irmãos e crescemos na capital paulista, de famílias de origem portuguesa. Ao explanar a minha trajetória, enfatizo, com o propósito de ensinar, de que não se trata de uma daquelas histórias perfeitas, romantizadas – especialmente na fase da adolescência –, que agradam a nossa cultura. Poderia até mesmo utilizá-la como forma de vitimização, porém, tenho alguns outros acordos com a vida.

O processo não faz parte do fim e, hoje, posso adentrar um contexto de sucesso, de como construir e manter uma jornada vitoriosa. São pontos que costumo enfatizar em palestras promovidas Brasil afora e no exterior. Amadureci muito rapidamente, e meus desafios iniciais estiveram relacionados ao ato de falar em público, por conta do julgamento de outrem. Contudo, contornei essa situação, conseguindo potencializar aquilo que tenho de melhor.

Considero a educação como algo fundamental, assim como o contato com a literatura e a importância do aprendizado contínuo. A preparação estratégica é essencial para se buscar o sucesso. Sem isso, englobando o academicismo, em algum momento no futuro esse pilar se romperá. Nunca fui a melhor na sala de aula, mas compensava com foco e algumas habilidades acerca de assuntos dos quais detinha mais curiosidade. Considero não existir o aluno “nota 10”, mas sim a pessoa que quer assimilar tudo pertinente à construção do perfil, tendo em vista atingir o seu propósito, com foco em suas metas.

Quando há preparação, aumenta-se a capacidade de se amplificar a visão e, por conseguinte, o nível de confiança sobe. Portanto, a vida acadêmica e as relações com as pessoas ao seu redor fazem enorme diferença. Ainda criança não detinha essa estrutura cognitiva para compreender tais questões, mas a vontade de superar tais obstáculos prevaleceu. Além disso, o preparo emocional foi essencial para guarnecer a competência de falar em público, naturalmente, embasada em prática e em repetição. Desta forma, suplanta-se qualquer medo que porventura possa vir a atrapalhar.

O networking e o êxito no segmento tecnológico

Após concluir o Ensino Médio, fiz seis meses de Arquitetura, mas por ser período integral, essa rotina impedia-me de trabalhar, além de exigir excelente condição financeira, algo que não detinha. Sendo assim, optei por cursar Letras, tradução-intérprete, com ênfase em Inglês, por considerar que guarneceria a base para realizar qualquer atividade. Amparada por esse pensamento, graduei-me pela Universidade Bandeirante de São Paulo, em 1997. Analisei que, caso dominasse as habilidades de escrever e ler bem, alavancaria a minha carreira, podendo me movimentar por áreas diversas.

Ressalto como gosto de realizar as coisas de forma diferenciada e, durante a faculdade, mantive esse hábito – o padrão da repetição se constrói. Na faculdade, havia uma diretora da Editora Abril, e eu era a mais nova da classe. Ela me confidenciou que estava me observando e gostaria de me contratar, justamente por eu contar com esse perfil distinto. Nunca mandei um currículo – antes de ingressar na Abril. Também trabalhei na Bosch, por indicação.

Ao ser apresentada ao diretor da Editora Abril, fui comunicada de que não havia vaga. Contudo, esse executivo era amigo de uma pessoa de uma empresa de tecnologia chamada Byte & Brothers e, assim, comecei minha caminhada nessa área, vendendo jogos, migrando pouco tempo depois para o setor corporativo.

Também por indicação ingressei na Microsoft, em que estabeleci uma linda jornada ao longo de seis anos. Tratei de me especializar e comecei a fornecer treinamentos para todos os parceiros da prestigiosa empresa no Brasil, principalmente acerca de licenciamentos. Encarregada dessa missão, observava o potencial dessas companhias, que hoje são minhas concorrentes. Naquela fase, deparei-me com um gap no mercado, “abrindo as portas” para enveredar como empreendedora e contribuir com conhecimento.

Realço como um momento muito importante em minha vida uma conquista lograda em 2016, com o valioso prêmio Partner of the Year. Participei dessa ação no Canadá e a recebi como uma dádiva. A Microsoft global indicou cinco CEOs, de cinco países, e fui designada a representar o Brasil no palco do evento, o maior de tecnologia do mundo, com cerca de 15 mil pessoas presentes.

Todos queriam saber quem eu era, o que fizera para chegar até aquele ponto. Fui incumbida por anunciar o contemplado do prêmio – à época, o Kirk Koenigsbauer, responsável pelo Microsoft Office globalmente. Considero como uma etapa marcante da minha história, vendo que o propósito de vida estava sendo cumprido, englobando todas as dificuldades pelas quais havia passado, e como elas haviam sido dissipadas após este dia tão emblemático. Foi desafiador e deveras importante para mim e para a empresa.

A eterna empreendedora e vendedora

Apesar de estar em franca ascensão dentro de uma proeminente multinacional de tecnologia, posteriormente tomei a decisão de seguir “voo solo”. Sempre almejei abrir o meu próprio negócio e, em agosto de 2009, fundei a N1 IT – o viés de empreendedora “corre por minhas veias”. Comecei em uma salinha, na casa dos meus pais, pois naquela época os recursos eram escassos. E foi nesse quarto que virou sala – no qual minha mãe passou os últimos anos de vida, por conta de uma enfermidade que a acometeu, quando eu ainda era adolescente – onde tudo começou.

O viés empreender despontou ainda na infância, sendo que, com pouco mais 10 anos, cheguei a abrir um negócio em sociedade com minha irmã caçula e duas amigas, focando em cosméticos, a SHISILITHA (Shirley, Simone, Lilian e Thais). Eu já nasci com este viés empreendedor, na minha visão esta empresa da infância foi a minha primeira experiência de entender que receberia muitos “nãos” e que teria que superá-los, caso escolhesse realmente vencer. Aprendi a lidar com feedbacks negativos e costumo dizer: quem a gente foi na infância nos acompanhará na fase adulta, mesmo que em contextos diferentes.

Todavia, segui adiante, e o primeiro passo para guarnecer fôlego à minha companhia foi preparar a estrutura de call center para prospectar clientes. Ratifico como marcou em termos de ser uma fase de vencer o dia inteiro, diuturnamente. Certo dia, tocou o telefone e a pessoa se apresentou como representante da Microsoft, comunicando-me acerca da solicitação de um cliente que pretendia transferir o contrato dele de três anos para a minha empresa. Já sabia, pelo tempo do acordo, de que não se tratava de um negócio pequeno – conhecia toda a dinâmica dos processos.

Ao analisar o contrato, liguei para o meu marido Nivaldo Araújo, amigo, sócio e companheiro na N1, com quem tenho três filhos, a Beatriz Fernandes de Araújo, de 17 anos, o Lucas Fernandes de Araújo, 11, e a Manuela Fernandes de Araújo, 4. Expliquei que, ao menos pelos três anos seguintes, não poderíamos nem sequer pensar em fechar a empresa. Já garantia em rentabilidade o que ganhava. Não tardou para novos clientes surgirem, Com o crescimento do negócio, em menos de um ano, já dispunha de um local específico, estruturado, passando por outros espaços. Tornar-me empreendedora foi disruptivo, com 30% do meu tempo de vida, mudei completamente a minha história.

Em 2022, recebi outra benção ao ser agraciada com o prêmio Woman in Cloud Leader of The Year, por minha contribuição junto ao segmento do mercado tecnológico e também por ajudar a fortalecer a participação da liderança feminina. Atualmente, a N1 IT integra o Grupo Stefanini, presente em 41 países. Mas a minha essência permanece a mesma – serei eternamente uma vendedora. O diferencial nessa história toda foi o trabalho de prospecção. Portanto, ressalto como a estratégia forte, bem delineada, deve envolver foco e singularidade. Inclusive, aquele primeiro cliente portentoso está comigo até hoje, e realço como os grandes projetos que chegam até mim são frutos de indicações. É muito interessante esse movimento de networking, operando amplamente em todos os aspectos da vida.

Quando entrei na Microsoft, logo busquei alguém para me espelhar. A minha líder, Ana Claudia Plihal, era essa profissional – queria ser parecida com ela. Contudo, a minha maior inspiração, abrangendo valores como repertório cultural, ética, resiliência, perseverança, foco, trabalho duro – tudo que guarneço dentro de mim, na construção do meu perfil – vem do meu pai. Outras pessoas se conectam e me identifico com algumas características. Mas, em termos de inspiração, sem dúvida, meu pai, Eduardo Pinto Fernandes, é o meu grande orgulho e exemplo de vida.

A empatia assertiva e a importância da ética 

Ao ser indagada sobre o perfil de quem está à frente dos negócios, costumo destacar como o maior desafio é o de saber interagir com as pessoas. Minha mensagem para todos os envolvidos em processos de liderança, de coordenação de empresas, é simples: aprenda a trabalhar com os indivíduos envolvidos, a extrair o melhor deles e ressignificar aquilo que não está positivo.

Crescemos por conta das relações interpessoais – trata-se de uma questão primordial no mundo corporativo. Se você não entende de pessoas, não entende de business – esse desafio é perene. Em função da Pandemia de Covid-19, houve um impacto significativo no psicológico dos indivíduos, portanto, liderar tornou-se ainda mais desafiador. O mundo, de forma geral, demonstra muita romantização, com excessos de reclamações e de negatividade desnecessária. Acredito, genuinamente, que você é o responsável por erigir a sua própria história.

Ou seja, a maior característica que o líder precisa ter hoje em dia é a empatia assertiva. Nunca vamos nos colocar no lugar do outro – isso é uma ilusão. Porém, é viável olhar sob outra ótica, pegar todo esse conteúdo, colocar em um plano estratégico, nos mais variados níveis.

Eventualmente, as pessoas têm alguns bloqueios e o ponto de convergência de uma liderança abarca como pegar a habilidade do liderado, posicionando-o no lugar correto. Meu desafio como líder passa por tais aspectos: proporcionar que o profissional cumpra com suas designações, independentemente da especialidade contida em sua carteira de trabalho.

Já no âmbito dos colaboradores, priorizo as soft skills, especialmente a sinceridade, o valor de dizer sempre a verdade, pois não há espaço para trabalhar sem transparência. Já cheguei a desligar pessoas que performavam de uma forma muito eficiente, mas que não atuavam imbuídas por esses pilares, especialmente nos aspectos éticos. Obviamente, sempre vou valorizar quem é honesto – se determinado indivíduo cometeu um erro, mas teve a humildade de reconhecer a falha, proporcionarei uma nova chance. O sucesso se constitui pautado em um legado sólido

Noto como muitos executivos, tanto os já estabelecidos quanto os das novas gerações, consideram que é fácil alcançar o sucesso. São pessoas com ego inflado, que se consideram superiores aos demais – e essa é uma das piores armadilhas do universo corporativo. Friso como são três pontos tão óbvios, mas que estão sempre atrapalhando o desenvolvimento de carreiras. O ego cega o profissional e o mesmo considera estar sempre certo. Além disso, acreditar que do dia para a noite conseguirá mudar sua vida de forma radical. O sucesso não é dinheiro, mas sim o foco no propósito e o legado constituído, com o intuito de contribuir com a sociedade.

A dificuldade é proporcional ao tamanho de como você a enxerga. Depende do seu olhar, se haverá potência em sua vida, se eventuais obstáculos irão acelerá-lo ou paralisá-lo, ou até mesmo estagná-lo.

Mas tudo depende do seu mindset. O processo não é fácil, edificado de um dia para o outro; mas se trata de algo gradativo, e o mais interessante é que seja contínuo e constante.