‘Ella en Obra' quebra barreiras de gênero na construção na América Latina
A iniciativa liderada por Andrea Osorio capacita empresas e mulheres para o aumento da diversidade na construção civil
Publicado em 4 de janeiro de 2024 às, 09h45.
A indústria da construção civil, historicamente dominada por homens, tem passado por transformações significativas em diversos países. No Chile, a organização "Ella en Obra", liderada por Andrea Osorio, destaca-se como um exemplo inspirador de como promover a inclusão feminina nesse setor. Fundada por mulheres técnicas em construção, a iniciativa nasceu da necessidade de visibilizar e inspirar outras mulheres a se integrarem a uma área tradicionalmente masculina.
De acordo com Andrea Osorio, fundadora da "Ella en Obra", os principais desafios enfrentados pelas mulheres na construção civil estão relacionados à necessidade de infraestrutura e políticas organizacionais que facilitem a atração e a permanência do talento feminino. No aspecto pessoal, destaca-se a importância de fortalecer a segurança e autoestima profissional das mulheres, enfatizando suas habilidades comunicacionais para impulsionar o desenvolvimento de suas carreiras.
Apesar dos esforços para aumentar a participação feminina na indústria, a evolução tem sido lenta, agravada pela crise que afeta o setor no Chile, conta Andrea. Contudo, a iniciativa "Ella en Obra" destaca seu papel crucial em impulsionar programas que incentivam a presença feminina, promovendo a colaboração entre governo, setor privado e sociedade civil.
Andrea implementou diversas iniciativas para melhorar as oportunidades de trabalho para mulheres na construção, incluindo capacitação de liderança para profissionais, treinamento em oficinas para aquelas que desejam ingressar no setor, palestras e workshops para empresas e órgãos estatais, além de parcerias estratégicas para ampliar seu impacto, alcançando não só o Chile, mas também países vizinhos, como Uruguai e Brasil.
Conscientização pelas lideranças
A "Ella en Obra" destaca a importância da sensibilização para conscientizar líderes empresariais e trabalhadores sobre o impacto positivo da inclusão feminina. A capacitação desempenha um papel
fundamental na qualificação da mão de obra e no aumento da produtividade dos projetos e da indústria como um todo.
Andrea acredita que a independência econômica é crucial para que as mulheres, especialmente quando enfrentam violência intrafamiliar, possam romper os ciclos de agressão. Ao focar em capacitação por meio de oficinas, proporciona oportunidades para que as mulheres ingressem no setor de maneira rentável e independente.
Até o final de 2023, mais de 270 pessoas, sendo 80% mulheres, foram capacitadas em diversas áreas da construção. No entanto, Andrea reconhece a importância do acompanhamento pós-inserção no mercado, identificando motivos de desistência para aprimorar programas e capacitações.
A iniciativa aborda a perspectiva de gênero em suas capacitações, utilizando manuais de comunicação que destacam o papel das mulheres na construção. Essa abordagem visa mudar culturalmente a visão sobre o trabalho feminino no setor, promovendo uma linguagem inclusiva e respeitosa.
Acreditando na importância de compartilhar experiência entre mercados latino-americanos, a iniciativa chilena "Ella en Obra" passará a oferecer suas lições valiosas para o mercado brasileiro, destacando a importância da sensibilização, capacitação e mudança cultural para promover a inclusão feminina na construção civil em parceria com o Instituto Mulheres do Imobiliário,
que já possui uma iniciativa de capacitação feminina para a inclusão na construção civil por meio de iniciativas ligadas ao primeiro setor.
“Como em toda crise há sempre oportunidades, acreditamos que a escassez de mão de obra hoje é uma excelente oportunidade não só para que mais mulheres ingressem neste setor, mas também para a indústria que tem a oportunidade de atrair talentos femininos e melhorar a produtividade dos seus projetos através de novas contratações”, enfatiza Andrea. A inserção feminina ainda contribui na diminuição da rotatividade - devido à estabilidade profissional que as mulheres necessitam- além de aumentar a diversidade das equipes, agregando todos os benefícios organizacionais.
Em um cenário de escassez de mão de obra qualificada, as oportunidades para impulsionar a participação feminina são vastas, contribuindo não apenas para a equidade de gênero, mas também para o progresso e a inovação na indústria da construção.