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TikTok, Space Jam e a nova moral do Marketing

Pauta de costumes e cultura do cancelamento: "Space Jam: Um Novo Legado", que deve estrear em julho, se transformou em palco das guerras culturais seletivas

Lola Bunny (YouTube/Reprodução)
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marianamartucci

Publicado em 17 de março de 2021 às 18h26.

Além do visual sexualizado (objetificado, em termos atuais) de Lola Bunny ter sido amenizado, Pepe Le Gamba (Le Pew no original) um cangambá (eu também pensava que era um gambá), personagem secundário da Looney Tunes, foi retirado da continuação de 1996.

‘Space Jam: Um Novo Legado’ (YouTube)

Misoginia, incentivo a comportamentos abusivos e propaganda da cultura do estrupo foram algumas das acusações que pesaram contra o desenho, que também é francês e fede, mas não sofreu nenhuma crítica de xenofobismo, ao menos não nessa polêmica específica.

Só para situar, o que se tem divulgado é que essa opção por retirar a cena inteira do personagem, partiu após crítica de Charles M. Blow. Confira a coluna de M.Blow no New York Times. Charles já havia criticado antes também o Ligeirinho e a mulher negra de Tom e Jerry.

A questão não é esse juízo de valor específico apenas, pois outros virão, mas tentar entender qual caminho marcas, personagens e ações de marketing em geral irão seguir daqui em diante. Já temos cada vez mais Gatekeepings comportamentais seletivos de profissionais de marketing, jornalistas e diretores, e ativismos específico cada vez mais organizados. A pergunta agora é: teremos ainda mais cortes irrestritos, pela incapacidade de lidarmos com questões incomodas ou será possível uma reformulação de abordagem optando pelo enfrentamento delas?

Em “Ninfomaníaca 2”, do cineasta Lars Von Trier, um especialista em cutucar feridas da classe média mundial, em uma cena também secundária, há um diálogo em torno da palavra “nigger”. Nela a protagonista choca seu interlocutor ao pronunciar sem problemas o termo proibido.

Cena do filme "Ninfomaníaca - volume 2" (Califórnia Filmes)

Nos EUA essa essa é uma barreira de linguagem muito forte, alguns chegam até a usar o “n word”, algo como “aquela palavra que começa com a letra n” quando precisam usá-la.

Toda vez que excluímos (cancelamos) uma palavra para tentar conter o preconceito envolvido acabamos reforçando o mesmo, como dizendo que ele venceu pela imposição. Grosso modo esse é o raciocínio da personagem. Ao contrário, enfrentar a questão, sem extirpar a palavra (no caso de space jam as imagens e comportamentos) pode ser um caminho para fortalecer o combate aos estigmas e padrões de comportamentos antissociais.

As cenas retiradas de Space Jam, ao que constam, seriam com uma modelo brasileira e teriam Le Gambá como um bartender tentando beijá-la a força, o seu mote clássico. No filme, porém, haveria espaço para que esse comportamento fosse advertido como inoportuno e inaceitável, tanto por Pernalonga quanto pelo jogador de basquete LeBron James, protagonista do filme. Haveria ainda um fato inusitado, na qual a gatinha perseguida por Le Gambá teria conseguido também um mandado de segurança para mantê-lo longe.

É fato é que o humor tem se mostrado ao longo dos séculos muito mais eficaz do que a força quando o assunto é desmontar convenções, ferir algozes e derrubar preconceitos, quem sabe a alternativa original não teria cumprido esse papel? Outro fato é que enquanto estamos debatendo  personagens nonagenários da Looney Tunes, no TikTok nesse exato momento milhões de crianças, adolescente e adultos estão se dedicando aos “TikTok Challenges”, tão educativos quanto passar a mão na bunda, nos seios e até de lamber os corpos de estranhos nas ruas ou lamber assentos de privada em plena pandemia ( sim, é verdade e um TikToker foi contaminado no ano passado ).

Tudo isso nos faz refletir se a censura parcial  e facilitada é a melhor saída e se tão importante quanto discutir a mensagem é também nos atermos aos meios? Podemos estar falhando duplamente, ao sermos excessivamente inocentes ao optar pela fuga das polêmicas, imaginando que preconceitos irão desaparecer simplesmente ao não falarmos sobre eles. E por não darmos a mesma relevância os limites gerais de onde os comportamentos modernos efetivamente estão fervilhando.

Se a saída for realmente a genuflexão total talvez as demandas estejam se realizando onde é mais fácil de subjugar, nos meios de comunicação de massa. As redes sociais ainda são terrenos incertos e assustadores para os que clamam por normatização, lá afloram humanidades muito mais fidedignas e por isso mesmo mais difíceis de se aceitar. Talvez seja melhor fingir que não se vê e dormir tranquilo após se satisfazer com o cancelamento de um camgambá de 91 anos.

*Fabricio Trevisan é especialista em Comunicação Corporativa e Gestão de Imagem e fundador da Agência Ímer. Siga nossas redes para novos projetos e oportunidades de carreira.

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Além do visual sexualizado (objetificado, em termos atuais) de Lola Bunny ter sido amenizado, Pepe Le Gamba (Le Pew no original) um cangambá (eu também pensava que era um gambá), personagem secundário da Looney Tunes, foi retirado da continuação de 1996.

‘Space Jam: Um Novo Legado’ (YouTube)

Misoginia, incentivo a comportamentos abusivos e propaganda da cultura do estrupo foram algumas das acusações que pesaram contra o desenho, que também é francês e fede, mas não sofreu nenhuma crítica de xenofobismo, ao menos não nessa polêmica específica.

Só para situar, o que se tem divulgado é que essa opção por retirar a cena inteira do personagem, partiu após crítica de Charles M. Blow. Confira a coluna de M.Blow no New York Times. Charles já havia criticado antes também o Ligeirinho e a mulher negra de Tom e Jerry.

A questão não é esse juízo de valor específico apenas, pois outros virão, mas tentar entender qual caminho marcas, personagens e ações de marketing em geral irão seguir daqui em diante. Já temos cada vez mais Gatekeepings comportamentais seletivos de profissionais de marketing, jornalistas e diretores, e ativismos específico cada vez mais organizados. A pergunta agora é: teremos ainda mais cortes irrestritos, pela incapacidade de lidarmos com questões incomodas ou será possível uma reformulação de abordagem optando pelo enfrentamento delas?

Em “Ninfomaníaca 2”, do cineasta Lars Von Trier, um especialista em cutucar feridas da classe média mundial, em uma cena também secundária, há um diálogo em torno da palavra “nigger”. Nela a protagonista choca seu interlocutor ao pronunciar sem problemas o termo proibido.

Cena do filme "Ninfomaníaca - volume 2" (Califórnia Filmes)

Nos EUA essa essa é uma barreira de linguagem muito forte, alguns chegam até a usar o “n word”, algo como “aquela palavra que começa com a letra n” quando precisam usá-la.

Toda vez que excluímos (cancelamos) uma palavra para tentar conter o preconceito envolvido acabamos reforçando o mesmo, como dizendo que ele venceu pela imposição. Grosso modo esse é o raciocínio da personagem. Ao contrário, enfrentar a questão, sem extirpar a palavra (no caso de space jam as imagens e comportamentos) pode ser um caminho para fortalecer o combate aos estigmas e padrões de comportamentos antissociais.

As cenas retiradas de Space Jam, ao que constam, seriam com uma modelo brasileira e teriam Le Gambá como um bartender tentando beijá-la a força, o seu mote clássico. No filme, porém, haveria espaço para que esse comportamento fosse advertido como inoportuno e inaceitável, tanto por Pernalonga quanto pelo jogador de basquete LeBron James, protagonista do filme. Haveria ainda um fato inusitado, na qual a gatinha perseguida por Le Gambá teria conseguido também um mandado de segurança para mantê-lo longe.

É fato é que o humor tem se mostrado ao longo dos séculos muito mais eficaz do que a força quando o assunto é desmontar convenções, ferir algozes e derrubar preconceitos, quem sabe a alternativa original não teria cumprido esse papel? Outro fato é que enquanto estamos debatendo  personagens nonagenários da Looney Tunes, no TikTok nesse exato momento milhões de crianças, adolescente e adultos estão se dedicando aos “TikTok Challenges”, tão educativos quanto passar a mão na bunda, nos seios e até de lamber os corpos de estranhos nas ruas ou lamber assentos de privada em plena pandemia ( sim, é verdade e um TikToker foi contaminado no ano passado ).

Tudo isso nos faz refletir se a censura parcial  e facilitada é a melhor saída e se tão importante quanto discutir a mensagem é também nos atermos aos meios? Podemos estar falhando duplamente, ao sermos excessivamente inocentes ao optar pela fuga das polêmicas, imaginando que preconceitos irão desaparecer simplesmente ao não falarmos sobre eles. E por não darmos a mesma relevância os limites gerais de onde os comportamentos modernos efetivamente estão fervilhando.

Se a saída for realmente a genuflexão total talvez as demandas estejam se realizando onde é mais fácil de subjugar, nos meios de comunicação de massa. As redes sociais ainda são terrenos incertos e assustadores para os que clamam por normatização, lá afloram humanidades muito mais fidedignas e por isso mesmo mais difíceis de se aceitar. Talvez seja melhor fingir que não se vê e dormir tranquilo após se satisfazer com o cancelamento de um camgambá de 91 anos.

*Fabricio Trevisan é especialista em Comunicação Corporativa e Gestão de Imagem e fundador da Agência Ímer. Siga nossas redes para novos projetos e oportunidades de carreira.

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