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O que é ser musa? Edição 2023 do Calendário Pirelli propõe resgate de sentido feminista do termo

A 49ª edição do 'The Cal' é assinada pela fotógrafa australiana Emma Summerton e será lançada em novembro. EXAME esteve no set de filmagem, em Nova York

A modelo chinesa He Cong: calendário 2023 da Pirelli dá visibilidade para talentos para além da beleza feminina (Alessandro Scotti/Divulgação)

A modelo chinesa He Cong: calendário 2023 da Pirelli dá visibilidade para talentos para além da beleza feminina (Alessandro Scotti/Divulgação)

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Leo Branco

Publicado em 21 de agosto de 2022 às 08h51.

Última atualização em 21 de agosto de 2022 às 19h10.

O que é ser musa nos dias de hoje? O conceito originário da mitologia grega, com as filhas de Zeus e Mnemósine consideradas musas por ditarem os rumos da ciência e das artes liberais na Antiguidade, sofreu um bocado de mudanças de lá para cá.

Muito provavelmente a imagem associada à musa nos dias de hoje é a da mulher com corpo esbelto ou o de uma beleza capaz de atrair olhares por onde passa. Tudo isso, claro, considerando uma ótica em essência masculina da coisa toda.

Por muito tempo um dos ícones absolutos de masculinidade em sociedades afeitas ao ideal do macho, como a brasileira, o calendário da fabricante de pneus Pirelli quer retomar o sentido original de ser uma musa.

O que é o Calendário Pirelli

Antes de entrar nas novidades do calendário 2023 da Pirelli, divulgado a partir deste domingo ao redor do mundo, um breve histórico sobre como este produto virou uma das principais referências de moda e beleza nas últimas décadas.

O calendário estreou em 1964 dentro de uma estratégia de marketing da operação britânica da fabricante de pneus italiana.

A missão era associar a marca à imagem de beldades capazes de atiçar os instintos numa cadeia de consumidores essencialmente masculina, de donos de distribuidoras ou revendedoras a borracheiros e motoristas.

Quem já fotografou 'The Cal'

A partir dos anos 80, o calendário — então já conhecido apenas por 'The Cal' em função do sucesso global — ficou notório pelo grupo seletíssimo de fotógrafos e modelos.

Ano após ano, fotógrafos badalados como Annie Leibovitz, Richard Avedon e Mario Testino disputavam a tapa a chance de assinar um ensaio ao lado de supermodelos como Iman Abdulmajid, Cindy Crawford, Kate Moss, Monica Bellucci e Gisele Bündchen.

Impresso em poucas dezenas de milhares de exemplares, distribuídos a clientes e para gente relevante do mundo da moda e da fotografia (e nunca disponível para venda), o calendário apelava fortemente ao erotismo e à sensualidade.

Num deles, em 1987, o primeiro a exibir só modelos negras, uma adolescente então com 16 anos chamada Naomi Campbell aparece mostrando o bumbum ao mundo pela primeira vez. A imagem rodou o mundo.

Tudo isso fez o calendário ganhar um orçamento próprio dentro da Pirelli — só em 2017 foram 2 milhões de dólares, segundo a CNN —, e uma função meio épica para a gestão da empresa.

Em certa ocasião, Marco Tronchetti Provera, CEO da Pirelli desde 1992, chegou a comentar que o calendário tinha o propósito de registrar o zeitgeist.

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O que esperar do Calendário Pirelli 2023

O passar dos anos, e as mudanças no zeitgeist, modificaram o The Cal e estão por trás do resgate do conceito original de musa proposto para o ensaio divulgado neste domingo.

Num mundo cada vez mais avesso aos padrões heteronormativos de beleza e de discussões aprofundadas sobre gênero, a edição 2023, a 49ª do calendário, propõe ser um tributo às mulheres pelas habilidades e ideias delas. E não só pela beleza delas.

A assinatura do ensaio, chamado Love Letters to the Muse, é da fotógrafa australiana Emma Summerton, uma das profissionais mais talentosas da geração pós anos 2000.

De 2005 para cá, Emma colecionou dezenas de ensaios para revistas de moda. As fotos dela figuraram em oito edições da Vogue, inclusive a da matriz, nos Estados Unidos.

As musas são um tema frequente no trabalho de Emma. "Desde o começo da minha jornada como fotógrafa, sempre fui movida por entender quem é a mulher nas minhas imagens. De onde ela vem? Para onde ela quer ir? Quem ela ama? Como ela ama? O que move ela adiante? Como ela imagina ela mesma no mundo? Como ela pode virar uma fonte de inspiração para ela mesma?", diz Emma.

"Faço essas perguntas sobre mim mesma e depois projeto essas mesmas questões nas histórias que estou tentando contar ou nas emoções que estou esperando transmitir. A intenção é inspirar o espectador a sonhar isso comigo."

A sessão de fotos comandada por Emma transcorreu ao longo de quatro dias no início de junho, um deles em Londres e três em Nova York.

EXAME esteve nos bastidores de um dia de sessão de fotos em Nova York, no Pier 59, um estúdio de 10.000 metros quadrados às margens do rio Hudson, na altura de Chelsea, bairro onde está boa parte da indústria criativa da metrópole americana.

Por ali, oito sets traziam visões distintas do que é ser musa. Em cada um deles estavam adereços alusivos ao arquétipo de musa representado pela modelo em questão.

Os arquétipos foram escolhidos pela própria Emma a partir da análise de aptidões, hobbies e atividades extras das modelos.

"A ideia foi dar o protagonismo para a modelo não ser só um modelo, mas sim ser reconhecida pelos seus talentos e ter o controle do processo criativo", diz Emma.

Quais são as 'musas' deste ano

Em alguns casos, o próprio set foi montado pela modelo com o apoio da produção.

"Observei o trabalho de Emma Summerton porque suas fotos representam um mundo onírico e mágico, muito rico em cores e imaginação. E como vivemos em uma época em que o "real" e o "irreal" se encontram com frequência cada vez maior, ela parecia a artista perfeita para interpretar esse momento e ao mesmo tempo dar uma grande contribuição ao patrimônio do Calendário Pirelli", disse Marco Tronchetti Provera, o CEO da Pirelli.

Ao todo, 14 modelos representaram musas distintas:

Karlie Kloss: the tech savant, ou 'a rata da tecnologia'

A modelo americana era uma ‘angel’ da marca de lingerie Victoria’s Secret quando, em 2015, ela largou tudo para estudar na New York University. Na época, criou o "Kode with Klossy", um projeto para incentivar o interesse de garotas pelas ciências exatas e pela programação.

(Alessandro Scotti/Divulgação)

Bella Hadid: the muse sprite, ou 'a fada-musa'

Filha da ex-modelo holandesa Yolanda Hadid, e irmã da também modelo Gigi Hadid, a supermodelo Bella coleciona 27 capas da revista Vogue e virou um dos principais nomes da indústria da moda nos anos 2010.

(Alessandro Scotti/Divulgação)

Guinevere Van Seenus: the photographer, 'a fotógrafa'

A modelo já trabalhou como editora convidada de revistas de moda e, com a câmera vintage Leica, faz autorretratos além de participar de editoriais de moda.

(Alessandro Scotti/Divulgação)

Emily Ratajowski: the writer, 'a escritora'

Alçada à fama por ser a musa do clipe Blurred Lines, do rapper Pharrell Williams, a modelo britânica publicou em 2021 o livro My Body, em que conta detalhes sobre a sua convivência com super-ricos e discute temas como sexualidade e feminismo.

(Alessandro Scotti/Divulgação)

Lauren Wasser: the athlete, 'a atleta'

Depois da amputação das duas pernas por causa de uma infecção causada por uma bactéria presente em absorventes, a modelo americana se reinventou como esportista: hoje, com próteses de ouro, ela corre maratonas.

(Alessandro Scotti/Divulgação)

Ashley Graham: the activist, 'a ativista'

Autora de um livro sobre como ela aprendeu a lidar com as imperfeições do próprio corpo, Graham trabalha no movimento Health at Every Size, dedicado a dar visibilidade para modelos plus size.

 

(Alessandro Scotti/Divulgação)

Kaya Wilkins: the singer, 'a cantora'

Também conhecida pelo nome artístico Okay Kaya, a modelo-cantora já lançou dois álbuns de synthpop e nu-disco.

(Alessandro Scotti/Divulgação)

Sasha Pivovarova: the painter, 'a pintora'

A modelo nascida na Rússia e radicada em Nova York faz pinturas nas horas vagas. Suas obras já foram exibidas em galerias de Paris e Nova York e na edição francesa da Vogue.

(Alessandro Scotti)

Precious Lee: the screenwriter, 'a roteirista'

A modelo negra plus size é ativista pela diversidade no mundo da moda. Além disso, já atuou nos filmes No Auge da Fama, Run the World e Jungle Red.

(Alessandro Scotti/Divulgação)

Adut Akech: the poet, 'a poeta'

Nascida no Sudão do Sul e criada na Austrália, ela aproveita as horas vagas na redação de poemas e na criação de desenhos digitais publicados em suas redes sociais.

(Alessandro Scotti/Divulgação)

Adwoa Aboah, the queen, 'a rainha'

A modelo britânica teve antepassados pertencentes à nobreza do Reino Unido.

(Alessandro Scotti/Divulgação)

He Cong, the sage, 'a sábia circunspecta'

Nascida numa pequena vila no sul da China, a modelo estudou moda e design e já fotografou para grandes grifes como Valentino.

(Alessandro Scotti/Divulgação)

Cara Delevingne, the performer

A supermodelo e atriz britânica atuou em filmes como Cidades de Papel, Esquadrão Suicida e Valerian e a Cidade dos Mil Planetas.

(Alessandro Scotti/Divulgação)

Lila Moss, the seer, 'a vidente'

Filha da supermodelo Kate Moss, Lila fala abertamente sobre a convivência com o diabetes (inclusive já desfilou com um monitor de glicose e uma bomba de insulina).

(Alessandro Scotti/Divulgação)

 

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