Entre algumas características, uma liderança humilde se baseia na valorização da equipe e na busca por colaboração e desenvolvimento conjunto (Alexey Yaremenko/Getty Images)
Repórter
Publicado em 7 de maio de 2024 às 07h07.
Última atualização em 8 de maio de 2024 às 18h40.
Humildade. Entre os diferentes significados que o dicionário apresenta, uma delas é “qualidade de quem tem consciência de suas limitações”, “quem expressa algum tipo de submissão em relação aos seus superiores”. Mas como um líder pode ser humilde com o seu time, sem ser visto como fraco?
Esse é um grande desafio atual que está fazendo com que muitos profissionais repensem seu comportamento no ambiente de trabalho – principalmente quando está no topo de sua carreira.
A popularidade desse tema, segundo Milena Brentan, coach executiva, tem aumentado nos últimos anos devido à evolução do pensamento sobre gestão, à influência das novas gerações que valorizam a colaboração e a transparência, às pesquisas e experiências práticas que destacam os benefícios da humildade na liderança, e aos desafios atuais, como a diversidade da força de trabalho e a necessidade de inovação constante, que demandam uma abordagem mais inclusiva e flexível por parte dos líderes.
No cenário atual, os novos líderes estouraram a equivocada bolha de que humildade é demonstração de fraqueza. “Agora os líderes pensam ao contrário. Se sou humilde para entender que não sei todas as respostas, aí sim posso considerar um cenário mais amplo, contar com outras opiniões e chegar a um resultado mais efetivo”, diz Brentan.
O termo "liderança tóxica" ganhou destaque no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, com o livro inovador de Marcia Whicker, "Liderança Tóxica: Quando as Organizações Dão Errado" (1996), explorando suas características e consequências, segundo Joaquim Santini, pesquisador internacional de comportamento.
Jean Lipman-Blumen também aprofundou a compreensão do fenômeno em seu artigo influente "O Fascínio dos Líderes Tóxicos" (2005), examinando porque as pessoas são atraídas por líderes tóxicos e oferecendo estratégias de enfrentamento, afirma o pesquisador.
“A humildade tem se destacado como uma característica essencial para as novas lideranças. Em um mundo marcado por constantes transformações, incertezas e complexidade crescente, os líderes necessitam de competências e abordagens distintas daquelas valorizadas no passado”, diz.
Embora líderes tóxicos possam ter existido em diferentes momentos da história e até mesmo hoje em dia, a rejeição deste estilo é mais recente, afirma Brentan. “Mesmo que antes da revolução industrial os estilos de liderança fossem frequentemente autoritários, eles não necessariamente eram considerados tóxicos pela sociedade naquela época da forma como entendemos hoje”, diz Brentan.
Líderes tóxicos frequentemente utilizam o medo, manipulação, ou abuso de poder para controlar e dirigir seus funcionários,segundo Santini. “Esses líderes podem ser autocráticos, narcisistas, manipulativos, coercitivos e podem frequentemente desmotivar e desvalorizar seus funcionários, levando a um ambiente de trabalho hostil, menos produtivo e que favorece o burnout e o burnon.”
Por outro lado, uma liderança humilde se baseia na transparência, na empatia, na valorização da equipe e na busca por colaboração e desenvolvimento conjunto. “Líderes humildes são acessíveis, ouvem suas equipes, reconhecem seus erros e valorizam as contribuições de todos, criando um ambiente de trabalho positivo, produtivo e engajador”, afirma a coach.
“Embora a humildade seja uma qualidade, qualquer ponto forte em excesso pode se tornar um ponto fraco. Nesse sentido, é importante buscar o equilíbrio, por isso o conceito de Kaissi de humbição é tão valioso”, diz Brentan que reforça que o termo reforça a importância de ser humilde com ambição.
O termo “humbição” foi criado com base em dois conceitos:
Um líder que é apenas muito humilde, segundo a coach, pode não buscar o que é importante para o time, sua área de atuação ou a organização como um todo, seja por receio, medo de assumir riscos ou por sempre priorizar outras opiniões em detrimento de suas próprias decisões. Além disso, em casos de crise, muitas vezes o time e/ou a empresa precisa de velocidade e uma liderança confiante.
“Portanto, é básico para um líder cultivar tanto a humildade quanto a ambição, garantindo que seja assertivo e proativo na busca pelas respostas a cada situação de acordo com o que cada momento exige”, afirma Brentan.
As semelhanças entre líderes fracos e líderes tóxicos incluem diferentes impactos negaticos, afirma Santini, como:
No entanto, existem diferenças distintas entre esses dois tipos de líderes, segundo Santini.
“Líderes fracos muitas vezes têm um impacto negativo devido à incompetência ou falta de habilidades, enquanto líderes tóxicos se envolvem em comportamento destrutivo intencional para ganho pessoal”.
Líderes fracos podem causar:
Líderes tóxicos são frequentemente carismáticos e habilidosos em manipular a percepção dos outros e podem causar:
Embora líderes fracos e tóxicos compartilhem alguns impactos negativos nas organizações, a liderança tóxica se destaca por seus comportamentos intencionalmente destrutivos, com maior dano à saúde mental dos funcionários, afirma Santini.
“Abordar a liderança tóxica requer uma resposta mais urgente e focada em comparação com a liderança fraca. As organizações devem estar cientes dos sinais de liderança tóxica e ter sistemas robustos para identificar, abordar e prevenir tais comportamentos prejudiciais.”
O poder de uma liderança humilde está na capacidade de criar um ambiente de confiança, respeito e colaboração, onde as pessoas se sentem valorizadas, motivadas e engajadas – é o tipo de liderança que está sendo valorizada atualmente, afirma Brentan.
“Esse tipo de líder também é mais propenso a promover a inovação, a criatividade e a resolução de problemas, aproveitando de verdade a diversidade de ideias e experiências da equipe”, diz. “Além disso, líderes humildes costumam ter melhor habilidade de lidar com conflitos e de adaptar-se a mudanças, tornando suas organizações mais resilientes e preparadas para os desafios do mundo atual.”
Por fim, Santini reforça que uma liderança baseada na humildade pode levar à formação de equipes mais coesas e resilientes, preparadas para superar desafios de maneira eficaz. “A humildade não apenas auxilia na carreira individual dos líderes, mas também eleva o desempenho e o clima organizacional como um todo, sendo um ingrediente chave para o sucesso empresarial”.