Milena Brentan, coach executiva: Meu convite é que o Dia do Trabalho seja mais do que um feriado e que sirva como um lembrete da importância de manter esse compromisso com a saúde e o bem-estar dos trabalhadores (Peter Cade/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 1 de maio de 2024 às 08h00.
Por Por Milena Brentan, psicóloga, executiva de RH e fundadora da MB People para desenvolvimento de liderança
Apesar de mudanças significativas nos levarem a um ambiente de mais saúde e bem-estar no trabalho, nunca foi tão importante falar de saúde mental e segurança psicológica quanto atualmente. Surpreendeu-me ouvir um comentário de uma diretora de RH sobre uma pessoa que não conseguia lidar com o “aceitável” nível de estresse daquela empresa. Sim, pessoas são diferentes ao lidar com os desafios, mas também é papel da empresa promover clareza sobre os temas de saúde mental, além de proporcionar um ambiente respeitoso. Isso não significa abrir mão da produtividade. Não precisamos escolher um ou outro. Este é apenas um dos grandes extremos paradoxais com que as lideranças precisam aprender a lidar.
O ambiente de trabalho passou por fortes transformações no último século, em que era marcado por jornadas extenuantes e insalubridade. As primeiras leis trabalhistas, como a CLT em 1948, deram um grande passo para melhores condições de trabalho. A ergonomia começou a ser um tema relevante na mesma década impulsionada pela realidade militar, sendo regulamentada no Brasil a partir de 1978. Em 2001 o Código Penal brasileiro incluiu o assédio sexual como crime, refletindo uma era de conscientização por ambientes de trabalho seguros e respeitosos. Já o assédio moral, embora reconhecido judicialmente, não possui uma legislação específica. E por falar em lei, a proibição de fumar em locais de trabalho no Brasil foi regulamentada nacionalmente apenas em 2014.
Enquanto muito avanço foi feito, a última década trouxe outros desafios à tona. A produtividade impulsionada pela tecnologia, o ambiente pós-pandêmico e as crises globais, como guerras iminentes e crises econômicas, evidenciaram desafios com saúde mental e isolamento social. Isso sem falar da constante conectividade, que tem levado à dificuldade de desconexão, aumentando o estresse e a ansiedade. Dado este breve relato, falar de saúde mental e segurança psicológica no ambiente de trabalho é mais relevante do que nunca.
E para quem tem dúvida, saúde mental é o estado de bem-estar emocional e psicológico que permite lidar de forma eficaz com as exigências da vida, enquanto segurança psicológica é a percepção de um ambiente de trabalho seguro para comunicação aberta sem medo de consequências negativas.
Ambientes de alta segurança psicológica promove bem-estar, reduzem o estresse e encorajam a resiliência, contribuindo significativamente para a melhoria da saúde mental dos funcionários. Então é fácil concluir que esta deveria ser uma grande ferramenta cultural a favor das empresas e suas lideranças, certo? No entanto, o primeiro estudo sobre segurança psicológica no Brasil - liderado pelo Instituto Internacional de Segurança Psicológica - revelou que 47,2% dos profissionais de RH pesquisados não se sentem aptos a desenvolver um projeto interno para implementar a segurança psicológica, sendo que 99,2% considera importante saber mais sobre o tema. Este resultado fica ainda mais crítico quando revelamos que do total de respondentes, 72,5% ocupavam cargos de liderança.
Dado este número alarmante, as dicas de hoje serão direcionadas para as lideranças:
Ao olharmos para trás é evidente que o progresso das condições no ambiente de trabalho é contínuo e que requer adaptação constante frente às novas realidades e desafios. Meu convite é que o Dia do Trabalho seja mais do que um feriado e que sirva como um lembrete da importância de manter esse compromisso com a saúde e o bem-estar dos trabalhadores.
A verdadeira excelência empresarial demanda a combinação de eficácia operacional com um compromisso com o bem-estar e desenvolvimento dos funcionários. E isso passa pela liderança saber lidar com um tema há muito negligenciado: a de que é possível navegar no que parecem 2 extremos, mas que são apenas 2 lados de uma mesma moeda.