Mulher negra: profissionais que também são parte de grupos étnicos-raciais sofrem mais com o desemprego (Klaus Vedfelt/Getty Images)
Repórter de Carreira
Publicado em 5 de maio de 2023 às 13h55.
Última atualização em 5 de maio de 2023 às 15h09.
Apesar dos avanços, as mulheres ainda enfrentam dezenas de desafios no mercado de trabalho. E esses desafios são ainda maiores no caso de profissionais que fazem parte de outra minoria, como mulheres negras e LGBTQIAP+.
Segundo uma pesquisa da startup Se Candidate, Mulher, 43,79% das mulheres LGBTQIAP+ e 41,95% das mulheres pretas estão desempregadas. O número é maior do que a média geral de profissionais mulheres que estão fora do mercado de trabalho, que é de 39,35%.
Os resultados fazem parte da pesquisa "Panorama das Mulheres no Mercado de Trabalho 2023", que ouviu mais mil profissionais do gênero feminino em todo o Brasil. A pesquisa ainda apontou que o preconceito é um dos motivos mais citados pelas mulheres LGBTQIAP+ para estarem fora do mercado de trabalho.
No geral, o perfil de mulher que está na fila do desemprego são profissionais do nível pleno, com idades entre 25 a 35 anos. Das respondentes, 39,44% estão desempregadas e 34,98% também são mães.
“Seja nas empresas, seja em outras esferas sociais, a vivência das mulheres é atravessada por questões como a múltipla jornada de trabalho, maternidade, desigualdade salarial e os vieses inconscientes, que podem impactar desde a atração no processo seletivo até a retenção e a satisfação dessa profissional em uma companhia", afirma Jhenyffer Coutinho, CEO da Se Candidate Mulher.
A pesquisa também apontou que apenas uma parcela pequena de mulheres está empregada e plenamente satisfeita com o seu trabalho: 10,6%. Cerca de 23% estão empregadas, mas buscando mudar de emprego, 16,5% estão trabalhando mas querem uma promoção e 10,5% estão em transição de carreira.
Em tempos que se discute a possibilidade de uma lei garantir a equidade salarial entre homens e mulheres, a baixa remuneração é o segundo motivo pelo qual as mulheres afirmam querer mudar de emprego (73,1%).
Entre os outros fatores que levam as profissionais também está a falta de perspectiva de crescimento na empresa em primeiro lugar, com 86,96%, e a falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional apontada por 64,29% das profissionais.
Não é de hoje que as pesquisas mostram que as mulheres são as principais afetadas pela síndrome do impostor, característica que leva os profissionais duvidarem do próprio talento e acreditarem que, apesar das conquistas na carreira, são 'fraudes' prestes a serem descobertas.
A falta de confiança também faz com que as mulheres não se sintam preparadas para assumir desafios. Uma pesquisa da Harvard Business Review de 2014 mostrou que mulheres candidatam-se a uma vaga apenas quando cumprem 100% dos critérios pedidos. Entre os homens, o número que dizia fazer o mesmo era de 60%.
Essa dificuldade em acreditar na própria capacidade também foi apontada pela pesquisa da startup Se Candidate, Mulher que mostrou que não possuir 100% dos requisitos pedidos é o fator mais apontado pelas profissionais para que elas não se candidatem a uma vaga de emprego. Outras 42,01% dizem que, apesar de reconhecerem possuir a experiência necessária, elas não se sentem boas o suficiente para assumir o cargo.
"São diversos os estereótipos da nossa sociedade e que ditam padrões que inferiorizam as mulheres, fazendo com que sejam consideradas menores e menos capazes no contexto em que estão inseridas”, diz Coutinho.