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O impacto da recuperação judicial na relação com fornecedores e clientes

Advogados discutem possíveis consequências e como empresas podem agir para minimizar os efeitos negativos da recuperação judicial

No que diz respeito aos fornecedores, o início da recuperação judicial frequentemente abala a confiança na devedora (William_Potter/Getty Images)

No que diz respeito aos fornecedores, o início da recuperação judicial frequentemente abala a confiança na devedora (William_Potter/Getty Images)

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Publicado em 10 de fevereiro de 2025 às 10h00.

Por João Octávio Moizés, Ligia Valente e Camila Somadossi*

A recuperação judicial é uma ferramenta essencial para empresas e empresários que enfrentam dificuldades financeiras, proporcionando a oportunidade de reorganizar suas dívidas e buscar a preservação da atividade econômica e dos empregos. Contudo, esse processo pode gerar impactos significativos nas relações comerciais, afetando especialmente a confiança de fornecedores e clientes, que desempenham papéis críticos para a sustentabilidade das operações empresariais.

Efeitos nos fornecedores

No que diz respeito aos fornecedores, o início da recuperação judicial frequentemente abala a confiança na devedora. A visibilidade pública do processo costuma gerar incertezas quanto à capacidade de cumprimento das obrigações futuras, o que pode levar fornecedores a suspenderem ou reduzirem o fornecimento de bens e serviços essenciais.

Essa desconfiança afeta diretamente a cadeia de suprimentos, ocasionando atrasos e interrupções que comprometem a continuidade das operações. Além disso, a renegociação de contratos durante a recuperação judicial, embora necessária para equilibrar as finanças, pode gerar tensões e resultar em condições menos favoráveis para os fornecedores.

Porém, é importante destacar que a legislação brasileira oferece proteção aos fornecedores no contexto de recuperação judicial. A continuidade do fornecimento é amparada pela legislação vigente e por decisões judiciais que garantem o pagamento pelos bens ou serviços fornecidos após o deferimento do processo, assegurando que tais créditos não se submetam ao plano de recuperação judicial.

Ademais, em caso de quebra da empresa recuperanda, os fornecedores gozam de prioridade no pagamento dos créditos gerados após o pedido de recuperação judicial, o que representa uma posição até mesmo mais segura em comparação às vendas realizadas fora do ambiente de recuperação judicial, uma vez que o risco de falência é inerente a qualquer agente do mercado.

Impacto nos clientes

Por outro lado, os clientes também são impactados pela recuperação judicial, especialmente no que diz respeito à percepção de estabilidade empresarial. Muitos veem o processo como um indicativo de fragilidade financeira, o que pode levar à perda de confiança e à diminuição da demanda pelos produtos ou serviços.

Por isso, alterações nas condições comerciais, como prazos de entrega e preços, necessárias para ajustar a situação financeira, podem ser vistas como inconvenientes e afastar clientes fidelizados. Além disso, a instabilidade operacional pode ocasionar atrasos ou interrupções no fornecimento, prejudicando contratos importantes e impactando negativamente a satisfação do cliente.

Estratégias para minimizar impactos

Para mitigar os efeitos negativos desses desafios, é fundamental que a empresa ou empresário adote estratégias proativas durante o processo de recuperação judicial.

Uma delas é a comunicação transparente com fornecedores e clientes. Tal medida visa esclarecer a situação financeira e os passos tomados para a sua recuperação, contribuindo para reduzir incertezas e manter a credibilidade das recuperandas.

Ademais, a empresa pode criar garantias adicionais para reforçar a confiança dos fornecedores, sempre respeitando o tratamento igualitário entre credores. A ideia é sempre propor um diálogo construtivo para renegociar prazos ou condições, sem impor unilateralmente termos desfavoráveis.

Outro ponto importante é investir em alternativas para fortalecer a cadeia de suprimentos. Caso um fornecedor decida interromper o fornecimento, a empresa deve buscar diversificar suas fontes de insumos, minimizando o risco de interrupções e consequente necessidade de majoração dos preços, o que impactaria na relação com os clientes.

No relacionamento com os clientes, a comunicação clara é igualmente essencial. Explicar a situação financeira, os motivos da recuperação judicial e as ações planejadas para estabilizar as operações ajuda a preservar a confiança.

Além disso, é importante que haja investimento em medidas para manter a qualidade dos produtos e serviços, mesmo diante de restrições financeiras. Demonstrar compromisso com o atendimento às necessidades do cliente, oferecendo soluções alternativas ou benefícios compensatórios em caso de atrasos ou falhas, pode mitigar os danos à reputação.

Também é possível considerar a personalização das condições comerciais para clientes estratégicos, como descontos especiais, bônus ou extensão de garantias. Essas iniciativas mostram que a empresa valoriza a relação e está disposta a tomar medidas concretas para preservar a parceria, mesmo em tempos de crise. Investir em programas de fidelidade ou ações de marketing direcionadas para reforçar a percepção de valor e confiabilidade da marca também pode ajudar a reter clientes durante o período de recuperação judicial.

Conclusão

A recuperação judicial, embora desafiadora, não precisa significar uma ruptura irreparável nas relações comerciais. Com planejamento, comunicação eficaz e uma postura voltada para a cooperação e inovação, é possível não apenas minimizar os impactos negativos, mas também fortalecer parcerias estratégicas, preparando para um retorno sustentável ao mercado competitivo ao final do processo de reestruturação.

*João Octávio Moizés é advogado especialista da área de recuperação judicial do escritório Finocchio & Ustra Sociedade de Advogados.

*Ligia Cardoso Valente é advogada especialista da área de recuperação judicial do escritório Finocchio & Ustra Sociedade de Advogados.

*Camila Somadossi G. da Silva é especialista da área de recuperação judicial e sócia do escritório Finocchio & Ustra Sociedade de Advogados.

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