Renan: ele disse que os representantes eleitos por voto popular vêm sendo criminalizados (Reuters/Reuters Brazil)
Agência Brasil
Publicado em 29 de maio de 2017 às 21h33.
O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez hoje (29) um duro discurso criticando o acordo de delação premiada fechado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) com os donos da J&F, Joesley e Wesley Batista, além de outros firmados pelo Ministério Público na Operação Lava Jato.
Para ele, os atos fazem parte de uma "sequência de acontecimentos preocupante" e disse que os representantes eleitos por voto popular vêm sendo criminalizados.
"Competências e prerrogativas do Congresso Nacional vêm sendo usurpadas com anistias indefensáveis. Mecanismos judiciais são manipulados para impedir a atividade legislativa. Clima mental desfavorável e violento aos deputados e senadores é estimulado pelas redes sociais e até - pasmem - pelos meios de comunicação", afirmou.
No discurso, Renan lembrou que a prerrogativa de conceder anistia é exclusiva do Congresso Nacional, numa referência aos acordos de delação premiada que vêm sendo firmados no âmbito da Operação Lava Jato.
Para ele, a condução dessas negociações têm levado a uma criminalização da política e induzido a opinião pública contra todos os políticos do país.
"Estamos diante de um ambiente de excepcionalidades jurídicas próprias de um Estado de exceção. Utiliza-se o instituto da delação como política de Estado, a exemplo do que foram a censura e a tortura na ditadura. A prisão preventiva é decretada para aterrorizar e obter delações. Dedurar inventando situações para sair da prisão ou da inevitabilidade da prisão passou a ser um bom negócio para criminosos confessos, regiamente recompensados com a impunidade e a lavagem oficial do dinheiro público roubado", afirmou.
Investigado em mais de uma dezena de inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente do Senado opinou que tal modelo demonstra a incapacidade do Estado na persecução penal e a fragilidade das provas que vêm sendo utilizadas nos processos.
"Para escamotear essa deficiência, sugere-se que o magistrado seja mero carimbador de acordos de delações ultrapremiadas, impedido até de verificar a voluntariedade, a regularidade e a legalidade de suas cláusulas, outros fatos além da investigação. E, pior, obriga-se o juiz imparcial a aceitar o perdão judicial conferido ao delator pelo órgão de acusação, abdicando da competência que lhe é reservada", criticou.
Renan provocou ainda o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, citando que há acordos em que a palavra "generosidade" deveria ser substituída por "janosidade".
Ele citou como exemplo o acordo firmado com o ex-senador Sérgio Machado, que gravou conversas não apenas com o próprio Renan Calheiros, mas com outros parlamentares da cúpula do PMDB para entregar em sua delação premiada.
"Desviou da empresa, legalmente, nos termos da colaboração, mais de R$ 256 milhões, em benefício dele e de sua família. Sérgio Machado e seus filhos, no entanto, vão devolver em parcelas somente R$ 75 milhões do valor desviado. Limparam quase R$ 900 milhões, que permanecerão em seus bolsos, não serão denunciados, e todos os processos ficarão suspensos. Em resumo impunidade total", disse.
Renan citou ainda o acordo de delação premiada dos irmãos Batistas, que na avaliação dele pagaram "multa irrisória". "Ricos, impunes e no exterior".