Marina Silva: "Tenho a felicidade de ter o voto de evangélico, voto de católico, voto de espírita, voto de quem crê e voto de quem não crê" (Adriano Machado/Reuters)
Valéria Bretas
Publicado em 3 de julho de 2018 às 10h28.
Última atualização em 3 de julho de 2018 às 13h57.
A pré-candidata pela Rede Sustentabilidade, Marina Silva, quer chegar ao Palácio do Planalto com a proposta de uma via alternativa. Em seu discurso de centro, a ex-senadora diz que não tem visão dogmática nem pró ou contra o mercado financeiro. "Historicamente, as eleições foram ganhas em rótulos", disse em entrevista no escritório da Bloomberg, em São Paulo. "Chega de rótulos. No nosso caso, estamos dizendo que queremos um Estado necessário."
Diante de uma das eleições mais polarizadas desde a redemocratização, com um colapso na política e anos de dificuldades na economia, Marina avalia que os brasileiros querem mudanças. Atualmente em segundo lugar nas pesquisas de opinião, e sem formar aliança com nenhum dos principais partidos, ela acredita que pode construir uma coalizão baseada em suas propostas, e não na tradicional política de dar e receber que rege a atual política brasileira.
Evitando rótulos, Marina afirma que não é bom para a sociedade e nem para investidores a simples divisão dos políticos entre aqueles contra ou a favor do mercado financeiro. Ela argumenta que, em uma economia saudável, exige-se investimentos em saúde, educação, segurança e infraestrutura.
Em sua terceira tentativa de chegar ao Palácio do Planalto, a pré-candidata diz que não tem posição dogmática contra as privatizações, mas que a venda de ativos estatais deve vir como parte de um plano de governo. Ela critica a abordagem do governo atual para a privatização da Eletrobras e também descarta a privatização da Petrobras, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.
Apesar de reconhecer a necessidade de reformar a Previdência, Marina se mostra contrária à proposta apresentada pelo atual presidente, Michel Temer. Ela reforça a falta de legitimidade do governo atual e diz que a PEC que estabeleceu um teto constitucional para os gastos da União é “irracional”.
“É preciso controlar o gasto público e não se deve ter atitude perdulária", diz. Ela defende que o aumento do gasto público deve ser de metade do crescimento do PIB, considerando a inflação.
Marina reforçou a importância da criação de empregos em um País com quase 13 milhões de desempregados. Ela reconhece ainda a importância do Bolsa Família, mas reforça a necessidade de inserir essa parcela da sociedade no mercado de trabalho.
Quanto ao Banco Central, Marina se mostra contrária à autonomia formal, mas disse que é preciso dar independência à autoridade monetária. "O Banco Central deve ter autonomia para tomar decisões e é necessário um compromisso para garantir que não seja alvo de oportunismo político."
A Rede Sustentabilidade tem apenas três representantes no Congresso. Questionada se buscaria alianças para impulsionar sua campanha, ela disse não acreditar que seu sucesso ou fracasso dependam de estruturas partidárias como dinheiro ou tempo de TV, mas reconhece que os apenas 8 segundos reservados a ela “preocupam”.
Para compor sua chapa, mas sem oferecer nenhum nome, Marina afirmou que irá procurar um candidato à vice-presidência com um "perfil complementar". Caso chegue ao Palácio do Planalto, ela diz que planeja governar atraindo políticos talentosos de todo o espectro.
Marina também incluiu, entre seus temas prioritários, a segurança pública - um dos principais assuntos do seu maior adversário, Jair Bolsonaro. Para ela, a justiça social, o emprego e o crescimento também são fundamentais para a redução dos índices de criminalidade.
A pré-candidata também defende uma reforma política que proíba a reeleição e adote mandato de 5 anos a partir de 2022, argumentando que a regra atual faz com que os políticos sejam motivados por resultados eleitorais de curto prazo.
Ela também exalta o êxito da operação Lava-Jato, a mais longa investigação de corrupção da história do Brasil, e que já derrubou dezenas de empresas e grande parte da elite política do país. "A Lava Jato é uma das melhores coisas que aconteceram no Brasil desde o retorno à democracia."