São Paulo – Dando destaque à situação de crise econômica e política do Brasil, um artigo publicado hoje (4) pelo jornal inglês Financial Times classifica o despertar do sentimento brasileiro de “luta contra a corrupção” como lado positivo da situação e uma "lição a ser seguida" pelo mundo.
Em referência clara aos protestos anti-governo, o jornal discute como a investigação do esquema de corrupção da Operação Lava Jato, que resultou na prisão de políticos e bilionários do país, e essa indignação popular são fatores que trazem “benefícios consideráveis” e fariam corruptos “pensarem duas vezes” antes de praticar atos ilícitos. Como resultado, a pressão resultaria em melhor governança do país.
Depois de citar alguns casos que exemplificam a gravidade da crise, como a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff — devidamente apontado que aconteceu depois das negociatas com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) —, o jornal ilustra como a nova postura estaria encaminhando uma melhora ao país.
“O destemor com que figuras antes intocáveis — caso de experientes senadores e André Esteves, ex-chefe do banco de investimentos BTG Pactual — estão sendo responsabilizadas é notável”, diz o texto. “Com certeza, é um contraste com a forma tímida que a corrupção é tratada em outras economias emergentes, como Rússia e China, ou mesmo Venezuela, onde a corrupção atingiu níveis espetaculares.”
O Financial Times lembra que o Brasil já passou por levante parecido para destituir o ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992, e, mesmo assim, não teria vivido grandes alterações de conduta. Desta vez, no entanto, a mudança seria motivada pela abrangência da crise, que atinge vários partidos e grandes empresários. Isso faria com que mártires não surgissem do processo, dando um caráter mais íntimo e afetivo à população.
“O processo de impeachment será uma distração adicional ao principal problema de Brasília: a economia”, diz o FT. “Mas mesmo em meio ao aprofundamento da catarse, há encorajadoras — e exemplares — mudanças também.”
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1. Qual a origem de tantas ocorrências de atos corruptos na sociedade?
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1/9 (Antonio Cruz / Agência Brasil)
São Paulo – A todo tempo, a
corrupção é tema chave em qualquer discussão sobre
política no Brasil.
Mensalão,
cartel de trens em São Paulo,
Operação Lava Jato,
contas secretas na Suíça e
Operação Zelotes são só alguns dos últmos escândalos que movimentaram o noticiário do país. Mas qual a origem de tantas ocorrências de atos corruptos na sociedade? Atrás da respostas presentes na literatura especializada,
EXAME.com foi atrás de cientistas políticos, professores universitários e de cursinhos preparatórios para vestibular em busca de uma seleção dos melhores livros para entender como a formação social do brasileiro influencia a representação política. O resultado foi uma lista de sete livros que mostram como a corrupção está encrustada na população desde tempos longínquos, com ações que desencadearam uma cultura de desmandos já na época do Império até os dias de hoje, em que atitudes cotidianas reforçam esses hábitos do “jeitinho brasileiro”. Veja nos slides um breve resumo dos livros e comentários dos estudiosos sobre cada um.
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2. "Raízes do Brasil" – Sérgio Buarque de Holanda (1936)
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Raízes do Brasil é considerado pelos acadêmicos um dos clássicos da historiografia e ciências sociais brasileiras. Trata, em especial, da incapacidade social de separar vida pública e privada, ajudando a entender as bases do interesse. “É uma obra que observa o surgimento do ‘homem cordial’ no Brasil, sempre hábeis em confundir interesses privados com o patrimônio público”, diz Gianpaolo Dorigo, do Curso Anglo. "É uma obra que foge do denuncismo tão característico de obras sobre o assunto. É um livro de História, escrito com bastante rigor e método e que acaba por desvendar as origens estruturais da corrupção no país." Título: Raízes do Brasil
Autor: Sérgio Buarque de Holanda
Ano: 1936
Páginas: 256
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3. "Homens livres na ordem escravocrata" – Maria Sylvia de Carvalho Franco (1964)
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O livro é fruto de tese de doutorado de Maria Sylvia de Carvalho Franco, datada de 1964, e traz questões para entender a formação histórica da sociedade brasileira. Para Rodrigo Prando, sociólogo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, esta é uma das leituras mais intrigantes para desvendar as possíveis origens da corrupção no Brasil, especialmente no seio dos órgãos públicos. “O capítulo 3 é iluminador de certas práticas culturais muito comuns no país que podem ter gerado práticas corruptas, entre eles a confusão entre o patrimônio estatal e a propriedade privada”, diz o sociólogo. “Desde o Império, a concentração da renda pública deixou os cofres municipais escassos. Recorria-se ao dinheiro do cidadão comum, então, muitas vezes, os recursos públicos foram apropriados por funcionários estatais ou por cidadãos ricos que haviam ‘emprestado’ ao município.” Título: Homens Livres na Ordem Escravocrata
Autora: Maria Sylvia de Carvalho Franco
Ano: 1969
Páginas: 253
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4. "Os Donos do Poder" – Raymundo Faoro (1975)
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Faoro se utiliza de preceitos do direito, história e ciência política para formar um estudo para compreender a formação social do Brasil, desde a colônia até a Revolução de 1930. Tamanha a importância a obra, foi indicada por dois dos especialistas. “É uma das principais obras do sociólogo e se destaca pela apresentação dos aspectos históricos associados à corrupção no contexto brasileiro”, diz Leonardo Nunes, analista político da Prospectiva Consultoria. “Faoro aponta no período colonial a origem da corrupção, que acaba se tornando parte da estrutura economia e política do país.” Gianpaolo Dorigo é outro entusiasta. “É um livro que busca as origens da classe dirigente brasileira e a encontra em meio ao período colonial, quando a burocracia portuguesa acabou transplantando para o Brasil sua estrutura patrimonialista”, diz o coordenador de História do Curso Anglo. Título: Os Donos do Poder
Autor: Raymundo Faoro
Ano: 1975
Páginas: 929
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5. "Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro" – Roberto DaMatta (1997)
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Outra indicação de Rodrigo Prando, do Mackenzie, é de autoria de Roberto DaMatta. “Ele já pode, sem dúvidas, ser colocado no panteão de autores indispensáveis para se entender o Brasil”, diz. Segundo o sociólogo, o título é fundamental pois o autor apresenta a dificuldade de se estabelecer relações sociais assentadas na igualdade de direitos e deveres, em relações impessoais. “Aqui, no Brasil, não queremos ser tratados como indivíduos e sim como pessoas, ou seja, a partir de um conjunto de relações pessoais, fortemente marcadas pelo personalismo e familismo”, afirma. “DaMatta apresenta esse dilema brasileiro: como passar de uma sociedade relacional, personalista, para uma sociedade alicerçada na igualdade jurídica e abstrata, onde todos são iguais perante a lei”. Trocando em miúdos, o que DaMatta indica é a problemática do “jeitinho brasileiro”, que busca resolver o conflito a partir de uma abordagem simpática e evitando o confronto. “Esse jeitinho, como forma de navegação social, está presente em todos os segmentos da sociedade nacional, é, ainda, o uso da criatividade no cotidiano, mas, também, da constante burla das regras, recaindo na ‘malandragem’”, diz Prando. “Outra forma de resolver os conflitos, quando falha o 'jeitinho', é usar da posição hierárquica, tão bem expressa numa frase: 'Você sabe com quem está falando?'. Ambos são presentes na arena da corrupção brasileira, seja ela uma 'pequena' contravenção até crimes envolvendo milhões de reais.” Título: Carnavais, Malandros e Heróis
Autor: Roberto DaMatta
Ano: 1997
Páginas: 350
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6. "A Corrupção e a Economia Global" – Kimberly Ann Elliott (2002)
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Para mostrar como a corrupção não é um problema exclusivo do país, há também a indicação do livro "A Corrupção e a Economia Global", de Kimberly Ann Elliott, que vasculha e expõe as causas e consequências da prática, colocando também em evidência toda a problemática para o desenvolvimento econômico ao redor do globo. Em certo momento, discute-se também as melhores medidas de combate à corrupção e políticas de transparência que podem coibir o avanço do aparelhamento público e privado. A recomendação é de Leonardo Nunes, analista político da Prospectiva Consultoria. “O livro desenvolve um panorama bastante completo do problema em um mundo globalizado, especialmente no campo econômico”, diz. “Com a perspectivas de diversos autores, são apresentados desde conceitos básicos até propostas de combate de uma forma bem didática.” Título: A Corrupção e a Economia Global
Autor: Kimberly Elliott
Ano: 2002
Páginas: 353
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7. "Corruption and Democracy in Brazil: The Struggle for Accountability" – Matthew M. Taylor e Timothy J. Power (2011)
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"Ótima referência, pois traz uma coletânea de artigos produzidos por especialistas brasileiros e estrangeiros, que analisa os pontos fortes e fracos do sistema de combate à corrupção no Brasil", afirma Maira Rocha Machado, professora da FGV Direito de São Paulo. Corrupção e Democracia no Brasil: A Luta pela Responsabilidade Fiscal (em tradução livre do inglês) é editado por autores estrangeiros e usa análises de diversos especialistas que permitem investigar as relações complexas entre instituições representativas, as dinâmicas eleitorais e consequências na opinião pública, por exemplo. Entram também considerações sobre as formas de prestação de contas de políticos, o papel dos meios de comunicação na corrida eleitoral e ação dos entes públicos. Uma boa leitura para entender o sistema político e como ele funciona, para o bem ou mal. Só está disponível em inglês, sob o título
Corruption and Democracy in Brazil: The Struggle for Accountability.
Título: Corrupção e Democracia no Brasil: A Luta pela Responsabilidade Fiscal
Autor: Matthew M. Taylor e Timothy J. Power
Ano: 2011
Páginas: 344
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8. "Ética e Vergonha na Cara" – Clóvis de Barros Filho e Mário Sérgio Cortella (2014)
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Em Ética e Vergonha na Cara, os autores Clóvis de Barros Filho e Mário Sérgio Cortella trazem reflexões sobre como pequenas corrupções em hábitos cotidianos, como colar em provas ou não devolver troco errado, podem influenciar na formação de jovens e criar uma cultura de “jeitinho brasileiro”. “É um livro interessante, que identifica a disseminação de comportamentos que se voltam para a busca de privilégios através do pequeno desvio da lei”, afirma Gianpaolo Dorigo, do Curso Anglo. “As vantagens materiais obtidas graças ao desvio, acabam por minimizar a falta, e a dissolução da ética é uma decorrência, apenas ampliando na esfera da política aquilo que se faz no dia a dia.” Título: Ética e Vergonha na Cara
Autor: Clóvis de Barros Filho e Mário Sérgio Cortella
Ano: 2014
Páginas: 112
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9. Aproveitando a levada cultural...
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