Eudardo e Jair: apesar de a decisão ainda não ter sido anunciada, há uma semana rumores sobre sua possível nomeação tomam conta do Planalto (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 16 de julho de 2019 às 08h54.
Última atualização em 16 de julho de 2019 às 09h15.
São Paulo — Em cerimônia na manhã desta terça-feira (16) no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que seu filho Eduardo Bolsonaro cotado para assumir a embaixada do Brasil nos Estados Unidos, "fala inglês, espanhol e frita hambúrguer também."
A fala foi feita após ele ser questionado pela imprensa se a decisão de indicar o deputado federal para o posto mais importante da diplomacia brasileira já havia sido tomada.
Durante a cerimônia, cerca de 20 pessoas estavam do lado de fora aguardando o presidente, uma delas com um cartaz escrito: "Eduardo embaixador".
Apesar de a decisão ainda não ter sido anunciada, há uma semana rumores sobre sua possível nomeação tomam conta dos corredores do Planalto. A escolha, contudo, ainda precisa aprovada pela Comissão de Relações Exteriores do Senado — o que pode trazer resistências para o deputado.
Segundo levantamento do jornal O Estado de S.Paulo dos atuais 17 integrantes da comissão seis disseram ser contrários, outros sete afirmaram ser favoráveis, três preferiram não comentar e apenas um não se manifestou, a senadora Renilde Bulhões (PROS-AL).
Políticos de oposição classificaram a intenção como prática de nepotismo. Contudo, o presidente e seu filho vêm se defendendo com base em uma súmula do Supremo Tribunal Federal (STF), de 2008, que definiu que a nomeação de parentes para cargos de natureza política não se enquadra como nepotismo.
Em resposta à intenção do presidente, o deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ) apresentou um projeto de lei para “determinar que sejam designados para chefe de missão diplomática permanente exclusivamente os integrantes do quadro da carreira diplomática do Serviço Exterior Brasileiro”.
Calero é diplomata. Em sua proposta, o deputado afirma que “o Chefe de Missão Diplomática permanente é a mais alta autoridade brasileira no país junto a cujo Governo está acreditado”.
Até mesmo políticos aliados do presidente se manifestaram sobre a escolha. A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) questionou a indicação em uma sequência de publicações no Twitter. “Quem fez Eduardo Bolsonaro deputado federal foi o povo. Isso precisa ser respeitado. Crescer, muitas vezes, implica dizer não ao pai.”
Em linha semelhante, o escritor Olavo de Carvalho disse que a tarefa de embaixador seria incompatível com a “missão” de Eduardo dada pelo seu pai: a criação de uma CPI no Congresso sobre o Foro de São Paulo.
Segundo Olavo, a CPI corre riscos se não for assumida por Eduardo. “Isso aí seria um retrocesso, a destruição da carreira do Eduardo”, afirmou o guru bolsonarista em seu canal no YouTube.
Segundo o site Brazil Journal, a nomeação deve acontecer em breve. O timing teria a ver com o fato de que Eduardo completou na semana passada 35 anos, a idade mínima para ocupar o cargo de embaixador.
A vaga de embaixador nos EUA está aberta desde abril, quando Sergio Amaral, que está no Itamaraty desde 1971, foi transferido de volta para Brasília.
A hipótese da nomeação de Eduardo já era discutida na embaixada em Washington, segundo uma fonte do Itamaraty, mas a principal aposta era que o escolhido seria Nestor Forster.
Ligado a Olavo de Carvalho, considerado guru do bolsonarismo, o embaixador Foster foi promovido recentemente e já está em Washington.
Uma hipótese é que o nome de Eduardo tenha sido colocado na imprensa para testar a reação e que mesmo que ele seja nomeado, Nestor permaneça como uma espécie de “número dois” para orientá-lo.
O fato do posto ter permanecido vago desde abril era visto com estranheza pelo Itamaraty justamente por ser um momento de aproximação entre os dois países.
O presidente Bolsonaro já visitou os EUA duas vezes em pouco mais de seis meses de mandato e o alinhamento com o país é com Trump é uma das marcas de sua política externa.
Na primeira visita, Eduardo participou, ao lado do pai, do encontro com Trump no Salão Oval da Casa Branca.
Ele está em seu segundo mandato como deputado federal, tendo sido o mais votado do país na última eleição, e é presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara.