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Primeira mulher a comandar a PGR, Raquel Dodge deixa cargo

Em seu último discurso no cargo, a procuradora reforçou importância da autonomia do Ministério Público

Raquel Dodge: procuradora-geral tentou, mas não conseguiu se manter no cargo por mais um mandato (José Cruz/Agência Brasil)

Raquel Dodge: procuradora-geral tentou, mas não conseguiu se manter no cargo por mais um mandato (José Cruz/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 17 de setembro de 2019 às 05h12.

Última atualização em 17 de setembro de 2019 às 06h30.

São Paulo — Primeira mulher a comandar a Procuradoria-Geral da República, Raquel Dodge se despede da chefia do órgão nesta terça 17. Seu substituto, se aprovado pelo Senado, será o subprocurador Augusto Aras, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro e que deve ser chancelado pelo Senado em 25 de setembro.

O último evento de Dodge na agenda aconteceu na noite de segunda-feira 16, na Escola Superior do Ministério Público da União, em Brasília. A uma plateia de procuradores, Dodge deixou de lado o discurso que escreveu e, sob aplausos, agradeceu à equipe. “O Ministério Público no mundo todo é independente e autônomo e só assim é possível compreender e cumprir o papel constitucional do órgão”, disse.

Apesar dos aplausos, a relação com parte da equipe não vinha bem. O grupo de trabalho da Lava-Jato na PGR pediu demissão coletiva no início do mês por atraso na delação do dono da empreiteira OAS, Leo Pinheiro.

A delação ficou parada por seis meses no gabinete de Dodge, e, quando finalmente chegou para homologação no Supremo Tribunal Federal, a PGR pediu ao tribunal que arquivasse anexos mencionando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e um irmão do presidente do STF, Dias Toffoli, por provas insuficientes. Como de praxe quando vem da PGR, o pedido foi acatado pelo ministro Edson Fachin, do STF, na noite de segunda-feira 16.

A Lava-Jato e Dodge viveram dois anos em pé de guerra. Procuradores a culpam, em partes, pela desaceleração da operação desde a saída do então PGR, Rodrigo Janot, com reclamações de que as colaborações premiadas não andaram. Outra desavença recente foi a recusa de Dodge em permitir que a Lava-Jato criasse e gerisse um fundo bilionário anticorrupção com as multas da Petrobras.

Dodge tomou posse em 18 de setembro de 2017, indicada pelo ex-presidente Michel Temer. Em 2017, foi a segunda mais votada em eleição interna da Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR). Desde 2003, primeiro governo do ex-presidente Lula, tornou-se tradição que o presidente indique o mais votado de uma lista tríplice.

Em 2017, o vencedor foi Nicolau Dino, irmão do governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B) e próximo a Janot. O procurador-geral tem poder para investigar e denunciar políticos com foro privilegiado, e como Janot denunciara Temer duas vezes, a leitura feita à época foi que Temer escolheu Dodge para salvar a própria pele.

Apesar das controvérsias, ela teve um mandato discreto. A procuradora não participou da eleição da lista tríplice deste ano por julgar não ter votos, mas acenou que gostaria de permanecer no cargo. Contudo, teve desavenças com Bolsonaro ao denunciá-lo por racismo no ano passado.

O novo PGR indicado, Augusto Aras, não disputou a eleição para a lista tríplice e foi escolhido por Bolsonaro após fazer acenos ideológicos ao presidente. Até sua posse, a PGR fica sob comando interino do subprocurador-geral Alcides Martins.

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