Bolsonaro pediu que Onyx e Guedes abandonem as disputas internas e deem demonstrações de unidade (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 8 de janeiro de 2019 às 11h14.
Última atualização em 8 de janeiro de 2019 às 11h30.
Após virem a público divergências entre os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Economia, Paulo Guedes, ainda na primeira semana do novo governo, o presidente Jair Bolsonaro pediu que os dois abandonem as disputas internas e deem demonstrações de unidade. Os ministros fizeram nesta segunda-feira, 7, um gesto inicial e, a convite de Onyx, Guedes almoçou com ele no gabinete da Casa Civil, no Palácio do Planalto.
Os dois fizeram questão de posar para fotos, tendo ao fundo o mapa do Brasil. Os sorrisos contrastavam com as idas e vindas da sexta-feira passada, dia 4, quando Onyx foi obrigado a desmentir que haveria aumento de impostos, após o próprio Bolsonaro confirmar a informação.
O presidente pediu "coesão" dos ministros e, apesar de ter sido porta-voz de declarações desencontradas sobre importantes medidas econômicas do governo, determinou aos auxiliares uma espécie de lei do silêncio.
Mais do que problemas de comunicação, os desencontros escancararam uma queda de braço entre o núcleo político e a área econômica do governo, como revelou o jornal O Estado de S. Paulo no sábado. Seguindo a solicitação de Bolsonaro, porém, Guedes negou essa divisão e disse não haver turbulências no horizonte.
"Todo mundo acha que tem uma discussão entre nós, uma briga. Nós somos uma equipe muito, muito sintonizada", afirmou nesta segunda o titular da Economia, após citar o nome de Onyx.
O comentário foi feito durante a cerimônia de transmissão de cargo para o comando do Banco do Brasil, depois do almoço com o chefe da Casa Civil. No discurso, Guedes elogiou Onyx e fez de tudo para mostrar que não havia discórdia entre eles. A reportagem apurou, no entanto, que, nos bastidores, as desavenças continuam.
Logo pela manhã, ao participar da solenidade de posse dos novos presidentes do Banco do Brasil, Rubem Novaes; do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Joaquim Levy; e da Caixa, Pedro Guimarães, Bolsonaro afirmou que a aceitação do seu desconhecimento em muitas áreas "é sinal de humildade".
"Tenho certeza, sem qualquer demérito, de que conheço um pouco mais de política do que Guedes e ele conhece muito, mas muito mais de economia do que eu", disse. Em conversas reservadas, o presidente solicitou aos ministros que sempre lhe apresentem duas linhas de ação, sob o argumento de que a "visão política" cabe ao chefe do governo.
Empenhado em desfazer rumores de que Bolsonaro também está se desentendendo com Guedes, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, apelou nesta segunda-feira até mesmo para o inglês e chamou os dois de "best friends". "Não teve rusga nenhuma, nem rusga, nem carrinho por trás, nem tesoura voadora, não teve nada", declarou.
Uma nova reunião ministerial foi marcada para esta terça-feira, 8, quando o presidente pretende "alinhar" o discurso da equipe. Além disso, cada ministro terá de apresentar o "inventário" de problemas nas pastas e metas para os cem dias de governo.
Na semana passada, a primeira de Bolsonaro no Planalto, houve divergências sobre as principais medidas do governo. Para completar o quadro de incertezas, uma declaração do presidente sobre a definição de idades mínimas para aposentadoria, no momento em que se discute a proposta de reforma da Previdência, provocou dúvidas que ninguém conseguiu explicar.
Bolsonaro chegou a anunciar mudanças nas alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e do Imposto de Renda, que também causaram ruídos e, depois, tiveram de ser negadas por Onyx e pelo secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra. O presidente disse que tinha assinado decreto aumentando o IOF para operações externas, sem dar detalhes. A elevação seria necessária para cobrir o rombo deixado pelo projeto que prorroga benefícios fiscais a empresas do Norte e Nordeste. Horas mais tarde, porém, tudo mudou.
Heleno creditou o "equívoco" de Bolsonaro à quantidade de informações recebidas por ele. "Acredito que aquilo foi fruto de uma primeira semana. O peso em cima das costas do presidente é muito grande e ele acaba ouvindo muita coisa sem ter tempo nem de conferir se o que ouviu está valendo ainda." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.