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Queimadas em São Paulo reduzem produtividade dos canaviais em 10 toneladas por hectare, diz pesquisa

Deterioração na qualidade da cana tem mudado o mix de produção das usinas, com um aumento na produção de etanol, segundo levantamento exclusivo da Pecege

São Paulo (SP) 24/08/2024 - Foco de incêndio próximo a rodovia presidente Castelo Branco, o governo de São Paulo cria gabinete de crise para combate a incêndios Estradas são interditadas e 30 municípios estão em alerta máximo Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
 (Paulo Pinto/Agência Brasil)

São Paulo (SP) 24/08/2024 - Foco de incêndio próximo a rodovia presidente Castelo Branco, o governo de São Paulo cria gabinete de crise para combate a incêndios Estradas são interditadas e 30 municípios estão em alerta máximo Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil (Paulo Pinto/Agência Brasil)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 24 de setembro de 2024 às 10h59.

Última atualização em 24 de setembro de 2024 às 11h02.

As queimadas que atingem os canaviais do estado de São Paulo estão causando grandes preocupações no setor sucroalcooleiro. Um dos efeitos mais imediatos da situação atual é a queda na produtividade agrícola, que registrou uma redução de quase 10 toneladas por hectare (t/ha) em comparação ao mesmo período do ano passado.

Até meados de setembro de 2024, a produtividade acumulada é de 85 t/ha, contra 95 t/ha em 2023, segundo um levantamento exclusivo da Pecege Consultoria e Projetos, divulgado à EXAME nesta terça-feira, 24.

Apesar de fatores como condições climáticas, idade dos canaviais e estágio da safra influenciarem os resultados, o impacto das queimadas é significativo sobre a produtividade, destaca João Botão, sócio-diretor da consultoria.

Entre os dias 23 de agosto e 10 de setembro, foram registrados mais de 3 mil focos de incêndio no estado, afetando 181 mil hectares de cana-de-açúcar e áreas de rebrota, mostram os últimos dados da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) — o prejuízo estimado já chega a R$ 1,2 bilhão.

"A queima da cana resulta em perdas de massa e qualidade, especialmente se a colheita não for realizada rapidamente. O ideal é que os canaviais queimados sejam colhidos em até 72 horas, podendo ser estendido para até 10 dias — após esse período, a perda da matéria-prima torna-se quase irreversível", pontua Botão.

Essa deterioração na qualidade da cana tem mudado o mix de produção das usinas, com um aumento na produção de etanol. Comparando os dados de agosto com os números pós-incêndios, houve um avanço médio de 2,5 pontos percentuais na produção do biocombustível.

A queima dificulta a produção de açúcar, já que a proporção de açúcares redutores aumenta e a pureza do caldo diminui, além de elevar o teor de fibras devido à evaporação da parte líquida da cana.

Quando a cana é queimada, a proporção de açúcares redutores — aqueles que podem ser convertidos em etanol — aumenta, mas isso ocorre em detrimento da pureza do caldo extraído. A pureza do caldo é essencial para a produção eficiente de açúcar, pois quanto mais impurezas houver, mais difícil se torna o processo de refinação.

Além disso, a queima da cana resulta em uma maior concentração de fibras, devido à evaporação da parte líquida da planta — o aumento no teor de fibras pode interferir na eficiência da extração de açúcar, já que mais matéria fibrosa significa menos caldo utilizável.

Com a possível redução na oferta de açúcar, o preço da commodity teve uma leve alta, levando a uma revisão da Pecege Projetos para o preço do Consecana-SP, que atualmente está em R$ 1,17/kg de ATR.

A ATR é a sigla para Açúcar Total Recuperável, um indicador que mede a qualidade da cana-de-açúcar e a sua capacidade de ser transformada em açúcar ou álcool — é medido em quilos de ATR por tonelada de cana.

Segundo estimativas do Pecege, o Centro-Sul do Brasil deverá produzir 600 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2024/2025, o que representa uma queda de 8,4% em relação à temporada 2023/2024. A produção de açúcar está projetada em 38,8 milhões de toneladas, enquanto a produção de etanol deve atingir 25,3 milhões de toneladas.

Os números estimados pela consultoria ainda não levam em conta os impactos da seca e das queimadas sobre os canaviais. A própria Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão responsável pelos levantamentos de safras do país, também não atualizou seus números para o ciclo 2024/25.

"As áreas atingidas, mesmo as já colhidas, demandarão investimentos adicionais em manejo, como reaplicação de fertilizantes e defensivos [...] Em casos mais graves, será necessário replantar os canaviais e corrigir os nutrientes do solo, para o restabelecimento da produção nessas áreas", diz Botão.

Cana de açúcar 2024/25

Estima-se que, sob as atuais condições, uma perda média de 20% na massa resultaria em cerca de 100 mil toneladas de açúcar a menos a cada 100 mil hectares de cana queimada, complicando ainda mais a precificação do adoçante no mercado futuro.

Dependendo dos dados nas próximas semanas, o preço médio do ATR pode alcançar R$ 1,20/kg, similar ao observado na safra 23/24, avalia Botão. Em contraste, os preços do etanol estão em queda.

Parte da cana que seria destinada à produção de açúcar está sendo redirecionada para o biocombustível, resultando em um aumento da oferta e diminuindo os preços na condição de Preço Veículo Usina (PVU) — o movimento ocorre após um período de estabilidade nas cotações do etanol desde o início do segundo semestre.

Nas últimas semanas, os preços do açúcar cristal branco têm apresentado uma alta significativa no mercado spot do estado de São Paulo, mostra o Cepea.

A elevação é impulsionada pela baixa disponibilidade do adoçante no mercado interno, consequência da queda na produtividade dos canaviais paulistas, causada pela estiagem e pelas altas temperaturas. Além disso, as exportações intensas ao longo deste ano também contribuíram para a escassez.

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