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Wide shot of farmer kneeling in wheat field inspecting results of cut during harvest with grid illustration overlay (Getty Images/Getty Images)
Repórter de Agro
Publicado em 5 de junho de 2023 às 14h38.
Última atualização em 6 de junho de 2023 às 10h42.
Em um cenário de menor expansão de terra e mais incentivo à agricultura de precisão, agricultores e agrônomos precisarão se aprofundar na extração de nutrientes do solo. Incrementar a produtividade de baixo para cima -- e não mais na horizontal. Da raiz ao grão, um longo caminho agronômico é feito para que os micro e macronutrientes do solo sejam absorvidos até o desenvolvimento da planta e do fruto. Estudar essa relação entre solo e planta é primordial para entender – e projetar – a capacidade produtiva das culturas. Diante dos avanços da agricultura moderna, é preciso fazer ainda mais. Essa é a análise de Everson Zin, head comercial da Climate FieldView.
Para Zin, há duas formas de crescer no agro: na horizontal, abrindo novas áreas, ou na vertical, produzindo mais. "Olhando as duas maneiras de crescer, na vertical é mais barato", diz em entrevista à EXAME. "É mais barato comprar um drone do que abrir área nova e comprar trator. Tem espaço para crescer, de forma intensiva e vertical, mais do que na expansão."
Criada na Califórnia, nos Estados Unidos, a Climate Corporation é a divisão de agricultura digital da multinacional alemã Bayer, surgida após a aquisição da americana Monsanto. A plataforma examina dados climáticos, de solo e de campo, com a proposta de ampliar a produtividade com base no uso inteligente destes dados. Em 2013, a proposta da Climate já era se debruçar sobre o universo de sensores no campo e imagens de satélite. De lá para cá, o software Climate FieldView, carro-chefe, ganhou espaço nas lavouras brasileiras por conversar com os sistemas operacionais de máquinas agrícolas.
A estratégia da empresa, portanto, está fundamentada na necessidade de gerar dados para conhecer melhor o solo e as condições de plantio. A agricultura de alta produtividade plantará tecnologia para colher dados. “De forma intensiva e vertical”, diz Everson Zin.
Como continuar crescendo em produtividade, em um contexto global que cobra esclarecimentos sobre a mudança de uso da terra e a pressão pelo fim do desmatamento?
Ou você cresce na horizontal, abrindo área, ou na vertical, produzindo mais. Mesmo que se queira crescer na horizontal, o que talvez seja possível somente em áreas no Matopiba [Acrônimo para Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia], as limitações de conectividade e estrada influenciam no custo da área. Outra limitação é o recurso financeiro. O dinheiro vai custar caro para investir na compra do trator, preparo do solo, silos. Isso vai ficar mais caro, e aí o alimento fica mais caro e não tem quem compre.
Qual o reflexo disso no campo, no momento de expansão da produtividade?
Dinheiro mais caro faz o produtor ter que produzir mais e melhor na mesma área. Então acredito que os próximos 10 anos serão de ganhos incrementais, com agricultura de intensificação. Olhando as duas maneiras de crescer, na vertical é mais barato. É mais barato comprar um drone do que abrir área nova e comprar trator. Tem espaço para crescer, de forma intensiva e vertical, mais do que na expansão. A quantidade de alimento que precisa ser produzido nos próximos anos faz o incremento vir a partir da mesma área.
Então, qual o próximo passo para o produtor iniciar essa jornada intensiva e vertical?
Plantio direto, rotação de culturas e fixação de nitrogênio no solo são algumas práticas já conhecidas. Para além disso, cada área do solo tem uma demanda diferente, então aderir a tecnologia de aplicação em taxa variável é um grau de modernidade, mas não está sendo utilizada no campo. Raio-x no solo, pressão certa no bico da máquina para cobrir corretamente a semente, velocidade correta da plantadeira, a distribuição mais correta das plantas. São coisas básicas, mas que no processo de crescer horizontal não se olhava tanto isso. Mas crescer na mesma área exige mais precisão. Vai ter uma série de tecnologias, como biológicos, biotecnologia, drone, para você usar na mesma área e não abrir terra.
Nos últimos anos, os saltos de produtividade nos últimos 20 ou 30 eram maiores pela expansão da terra. Quando você começa a olhar a área com dados e informações, começa a melhorar processos, esse vai ser o salto. Não temos dúvida disso.
O produtor brasileiro está pronto e tem condições de adotar esse nível de gestão?
O ponto zero é conhecimento. Tem pouca gente habilitada para dar essa consultoria técnica. Talvez tenhamos que voltar às questões técnicas agronômicas. Tecnologia tem, mas é preciso de know-how agronômico. O conhecimento técnico precisa ser resgatado, pois o ensino agronômico está raso e isso é um problema. Isso pode comprometer o agronegócio, porque as grandes companhias têm como investir na própria pesquisa, mas a pesquisa pública é importante para o país. A Embrapa tem que resgatar esse espírito técnico no Brasil, assim como outras instituições que precisam voltar a fazer dias de campo para difundir a tecnologia e transferir o conhecimento.
Além da intensificação vertical, o que mais você projeta para o futuro?
Nos próximos anos, vamos começar a ter o mesmo problema que nos Estados Unidos e Europa: o agricultor fica mais velho e talvez não consiga quem opere as máquinas, sendo preciso um trator autônomo. Essa é uma frente que deve crescer no Brasil, porque é uma questão física e geracional. Pelo mesmo fator do dinheiro caro, a terceirização de serviços no campo pode ser outro caminho, como aluguel de máquinas sem comprometer os ativos comprando algo que vai se deteriorar. Mas, acima de tudo, acredito que agricultura dos próximos 10 anos vai ser autônoma, graças à precisão dos dados.